terça-feira, 10 de setembro de 2013

A nossa casa e os canteiros de trevos



Contigo nunca tenho de me resgatar dos lugares a que não pertenço, porque pertenço a todos os lugares. Soçobram minutos entre as fendas da velha madeira do soalho e outros se acrescentam - os que entram pelas frestas da persiana e iluminam tudo o que é preciso iluminar.

Guardas-me os passos como guardador de sonhos, e eu caminho, segura, pelas nuvens de um deserto urbano, onde as almas parecem dormir de(s)cansadas; onde o nosso sorriso cúmplice contrasta com a depressão silenciosa da paisagem urbana.

Passa-me pela cabeça o Divino, reparo no céu plúmbeo que anuncia a trovoada. Sinais apenas. Sinais de penas. Sinais sem penas. Passa-me pela cabeça a implosão e explosão nos nossos corpos e sigo pela berma mais quente dos traços brancos que os faróis dos carros me dizem ser uma estrada.

Vais e vou. Tu, encontrar água e adubar sementes novas e eu, preparar a terra e os canteiros para novas flores, daquelas que envaidecem qualquer monte, qualquer jardim. Não há pressa, mas temos pressa, porque, sabemos nós, é ciclicamente Primavera nesta latitude ajardinada, e não queremos perder o desabrochar das margaridas.

Chego à terra que outrora conquistei e sinto-me estival, com bandos de andorinhas a pousar nos meus cabelos, ribeiras a correr sobre o meu corpo e cheiro a terra molhada como só Junho tem- se a chuva acontecer.

Faço crescer agora a noite sobre mim e adormeço a sonhar com canteiros de trevos a ladear o jardim da nossa casa.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.