sexta-feira, 30 de agosto de 2013

domingo, 25 de agosto de 2013

Assim tem que ser, assim será

Assim é que a vida deve ser, quando um desanima, o outro agarra-se às próprias tripas e faz delas coração.

José Saramago

Deixa-me só a alma

Fica comigo. Se não conseguires ficar com o corpo, fica com a alma. Abraça-me e beija-me só com a alma e esquece-te do corpo. Deixa-o ir onde tem que ir. Deixa-o ir lá para onde tem que ir, deixa-o ir onde tem que ir.
Vamos mobilar a casa, arrumar as compras, cozinhar a vida em lume brando. Comprar uma cama própria para almas. Vive comigo com a alma, como se te dividissem em dois. Vamos habitar como dois fantasmas, criaturas sem corpo, um mundo diferente, sem outros mundos lá dentro. Faz com que nunca mais tenha que passar a ombreira da hora em que te vais, em que te escondes nas curvas do pensamento e desapareces do alcance do meu olhar. Sê tu a despedida – do teu corpo apenas.

Deixa passar quem passa, deixa acontecer: mesmo o que não acontecerá nunca. Toca-me agora, outra vez. Toca-me com a alma. Deixa o mundo girar, deixa o mundo parar, mas deixa-te ficar comigo. Alma. Nem que seja só a alma. Prometo dar-lhe o meu corpo, darei á tua alma este meu corpo, e de novo ficarás inteiro. Corpo e alma. Eu e tu, sem tempo de despedidas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Entrelinhas


Não quero deixar entrelinhas em nada do que escrevo. Se as palavras nos juntaram, não posso deixar que nada te deixe dúvidas: quando as lês. Fico a madrugar sobre verbos e parágrafos e vejo as folhas de papel, lentas, espreguiçarem-se de tédio: perante a minha lassidão: numa melancolia abstracta.

Ainda me lembro, de quando as letras nos dançavam em latitudes diferentes, faziam-nos correr, faziam-nos sonhar, ansiar em conhecer mais e mais – mais de todas as curvas e pontos dessa avassaladora paixão – a escrita. Depois, a noite caindo de surpresa como um fardo insone sob as nossas despedidas, “poemava-nos” os sonhos nas margens sedentas, mas opostas, do mesmo rio.

Às vezes paro e penso: que um dia as palavras podem recusar-se a reconhecerem- nos por entre o amontoado de papel, amarelecido pelo tempo. Às vezes paro e penso na estação de serviço sem poesia e vejo ainda o teu rosto, onde desfilavam sempre e só um amontoado de palavras que te saíam em silêncio, pelos olhos, sem aviso.

Às vezes, paro e penso, que há no meu olhar uma avidez eterna que segue o traçado á tua escrita, e que nunca nos deixará partir para parte incerta.

Às vezes penso: vou ter cuidado com os espaços, com as entrelinhas – não quero derrocadas de letras sobre as folhas de papel, confusas, sem saberem se sou eu que as vou vestir com prosas de amor e poemas de ficar, ou se és tu que as vais despir, com leituras demoradas, apagando espaços e sombreando com os teus dedos fogo – as entrelinhas.

Às vezes paro: com medo de escrever espaços em branco.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Hortenses

Dei umas belas voltas para encontrar hortenses. Encontrei. Nem que tivesse que ir aos Açores.

Fiquei tão feliz. Quem as vai receber também ficará, tenho a certeza.

:)

LUA


Esta noite dormi com a Lua. Entrou pela janela do meu quarto, abraçou-me de luz e adormeceu-me a cantarolar.

A noite foi longa; noites de lua: sonhei contigo - e ela viu. Depois, fiquei a manhã inteira a espreguiçar-me no seu sono, e a contar-lhe as minhas histórias. Riu-se quando lhe disse que gostava de ir contigo aos fados. Bocejou e respirámos empatia: lunáticas e simples nos gostos – claras e brancas na luz. Solitárias e misteriosas, habitantes sombrias no lado em que o sol se esconde. Personagens de histórias fantásticas, com uma hipnótica tensão de enganar o tempo.

Ir aos fados contigo – que coisa simples, disse-me ela. Encostar a cabeça no teu ombro e degustarmos verso a verso, os poemas que se escapam das guitarras. Sorver a noite devagar e beber o recorte de mistério nos teus olhos. Encostar-me no teu peito até que a madrugada nos permitisse o último acorde. Deslizar-te no calor das mãos até que tu e eu vestíssemos a mesma pele. Arrepiada.

Lua, agora vai, sei que te cega a luz do outro astro que acordou. Reza por mim lá nas tuas galáxias de fantasia. Pede ao teu Deus– é pouco Lua, mas louco. Gostava apenas de ir aos fados. Com ele.

Vai Lua, não sei ao que vieste, mas sei que entraste com a madrugada e o luar e que agora saio eu com a alma no olhar. Tenho esperança que consigas o desejo – o meu.

Vai Lua, não contes a ninguém da nossa noite, finge que fomos amantes clandestinas. Vai Lua, que eu vou também – pôr os sonhos a dormir e pé ante pé acordar a utopia. E encetar o dia.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Futilidades



Futilidades
Apetecem-me futilidades. E também tenho direito, certo?

Bom dia



Esta noite tropecei na madrugada e fui parar a uma praia. Chovia e peguei-te na mão. Caminhámos junto ao mar, primeiro mão na mão, depois abraçados, depois deitados na orla das ondas. Caminhámos, deitados na orla das ondas.
Fomos amor e espuma, vezes e vezes sem fim. Fomos concha e búzio, areia, frio e lua.
Depois, acordei-me com carícias em ti. Ainda havia sal no meu olhar.
Olhei as paredes brancas do meu quarto, e comecei, lentamente, a escrever-lhes versos e mais versos....
Anda daí, termina-me esta estrofe.
Bom dia

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sono

Só acordo, porque é urgente dizer- te todas as palavras que me nasceram durante o sono .
Só acordo, porque é urgente dizer-te a palavra amor.
Só acordo, porque estou transbordante de amor - para te dizer .

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Só te queria aqui

O que eu queria era que estivesses aqui, a decifrar-me as palavras, a agarrar-me as mãos, a aparar-me as lágrimas e a traduzir-me os silêncios.

O que queria mesmo era que estivesses aqui, simplesmente, agora simplesmente. A amparares-me os medos de que as partidas não tenham regresso.

Só alguém que faz parte de nós nos consegue aparar os medos.

Só temos medo que alguém parta sem regressar se essa pessoa fizer parte de nós.

Fazer parte de nós é um conceito de amor.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Um só

Ama-me como se fossemos um só corpo

Yeah Right!


De vez em quando levantam-se fantasmas do passado, que chegam até mim com as conversas da treta do costume. Terei cara de parva?

Yeah Right!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Nada, nunca

Há uma finitude na seiva das searas
No brilho das estrelas

Há uma (in)finitude nas luz das alvoradas

Nada, nunca
Fenecerá na seiva dos teus lábios
Nada, nunca
Será finito em nós

Repartições cinzentas e chatas

Subo e desço escadas, palmilho ruas, cruzo-me com  olhares anónimos e detenho-me em repartições de aspecto antigo. Olho de relance os imensos livros de registos e tomos gigantes - de tudo e de nada. Imagino-os repletos de rabiscos e anotações ilegíveis, esborratados pela humidade e pelo atropelo do passar dos dias iguais.
Que idade terão? Que importa isso?
Apetece-me escrever naquelas lombadas títulos de capítulos desta história.
Desta história de ti e de mim.
Lombadas brancas, escritas a preto, em caligrafia inglesa e rebuscada, como se fosse PESSOA a "poemar" a letra.
Se o fizesse, a partir de hoje, nessa repartição, os olhares cinzentos das pessoas que desesperam, passariam a sorrisos francos e simples de pessoas que apenas esperam. E anseiam ser felizes. Como nós, contados nas lombadas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

TU

Não sei quantos tempos existem, não sei em quantas formas se conjugam os verbos. Sei que todos os tempos são tempos de ti e que todos os verbos se conjugam na segunda pessoa: tu.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013