segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Abril, 2


Hoje respondi-te. Mas só banalidades. O que te queria ter respondido era diferente. Algo assim:

Vem daí e traz as folhas, marco-te um encontro ali em baixo junto ao rio. Chega. Senta-te na toalha de linho que tirei da arca, a mesma que nunca serviu em toda a minha vida. Queixas-te do cheiro a antigo da toalha e eu borrifo-te o ar com baunilha e âmbar.

Vem daí e espalha essas folhas pelo chão, faz desenhos, uma cruz, um quadrado, e os mais que te ocorrerem … acaricia os ninhos que se escondem na folhagem e fustiga depois, com os mesmos gestos: a minha timidez. Lê, lê agora aqui junto a mim tudo o que escrevi. Em voz alta, diz-me o que não sei, diz-me por palavras tuas o que escrevi. Diz-me que me lês, diz-me agora. Diz-me o que quero ouvir.

Depois deixa-me beijar-te as mãos e depois a boca, deixa-me representar um a um os personagens em que me transmuto, deixa-me que um deles seja eu. Eu própria. Deixa-me escrever-te um beijo onde eu quiser.

 

Hoje escrevi-te, mas só banalidades lexicais. Não te escrevi o que queria porque há nos meus dedos uma gaivota com medo de cair, empoleirada num beiral de janela improvisado, à procura da beira do seu mar.

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