quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Acordei, porque era urgente
Esta noite acordei de madrugada e sentei-me a escrever.
Esta noite acordei de madrugada porque era urgente escrever-te para te dizer que nunca sais de mim, para dizer-te que mesmo quando não te quero encontrar, te encontro sempre esquecido num recanto do meu corpo.
Esta noite acordei para escrever-te. Para dizer-te que mal posso esperar pelo momento em que a minha boca chegará ao encontro marcado - com a tua. Que mal posso esperar para escorregar na tua pele até ao abismo dos momentos que não se conseguem descrever.
Hoje acordei. Era talvez ainda madrugada e precisava de te escrever que sim. Que sim que és o sinal mais de toda a minha existência, a tampa certa na ebulição da minha vida, o caminho para o céu, o terraço para o mar. És o eterno sabor da minha boca e o cheiro sublime que jorra, fresco, dos meus poros.
Hoje acordei de madrugada porque era urgente dizer-te que não consigo dormir com a tua ausência, que nada enche os teus silêncios, não há sol que disfarce a tua sombra, nem substitutos para as memórias das nossas odisseias dos sentidos.
Acordei e pensei que era tão urgente vir escrever-te. Era ainda madrugada, eu sei, mas tu sentiste. Desinquietei-te desse sono muitas vezes acordado de mim.
Esta noite acordei de madrugada e sentei-me a escrever, porque era urgente. Urgente dizer-te que és a minha maior certeza. A luz das minhas noites escuras. A estrela que ilumina o meu caminho. Urgente dizer-te, como já te disse, que me devolveste a vida. A vida que não tinha.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Feliz Natal, amor!
Feliz natal, amor!
Deixo-te aqui o meu sorriso de bolas prateadas, para pendurares nos dias em que não me olhares, deixo-te os meus gestos calmos, para desenhares corações no espaço curto, imaginário, que fica entre o nosso abraço. Deixo-te, amor, o meu cheiro, para polvilhares o arroz-doce na mesa de Natal e com ele fazeres desenhos invisíveis como se fossem desenhos de canela. Deixo-te, sabes o que mais te deixo? Deixo-te, suspensa, na luz intermitente da janela - a minha vida! Isso amor, deixo-te assim, sem mais nem menos, suspensa em ti, a minha vida.
Feliz Natal, amor!
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Abraço
O melhor da vida é saber em cada dia que posso inventar um abraço mais abraço que no dia anterior.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Pressa
Ontem passei lá naquele sítio, no sítio do costume, um sítio que por
mera casualidade é passagem obrigatória para outros sítios, para a porta de
outras casas, na senda meramente casual de reviver outros sonhos, outros tempos.
Ontem vi-te pela enésima vez, da enésima das vezes que ali passo e reparei que
tens sempre no olhar esse ar de chegar tarde, esse ar de quem está sempre com
pressa. Abrandei e olhei-te nos olhos, destemidos, profundos, porém fugidios e
acossados pela pressa – alguém que chega, alguém que espera, alguém que paga,
alguém que vai embora, alguém que chega. É este o ciclo de medo e de pressa, de
desgosto e de ansiedade em que te afundas e em que vives os teus dias. Ali, sentada
na velha grade de madeira, inclinada sobre a estrada, levantas-te e sentas-te e
deitas-te com a pressa apressada de quem se quer sempre levantar, e vais e
voltas com a pressa de quem confunde cheiros e vozes e nomes e preços.
Olhei-te nos olhos com a admiração de quem se vê ao espelho; de quem se
vê ao espelho em consciência - pela primeira vez -; nada disse – segui depois,
também na minha pressa de: chegar, fazer, trabalhar, executar e ouvir e comer e
calar.
Ambas somos prostitutas sentadas em grades diferentes: a tua de madeira
velha e suja; a minha, disfarçada de cadeira de secretária novinha em folha;
ambas fazemos o que não queremos a troco do dinheiro que precisamos; e em nós
há a mesma pressa de sair e voltar a tempo de sentar e escrever e
fazer, executar, comer e calar – antes que chegue alguém que disfarçadamente nos
ocupe o lugar.
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