quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Acordei, porque era urgente
Esta noite acordei de madrugada e sentei-me a escrever.
Esta noite acordei de madrugada porque era urgente escrever-te para te dizer que nunca sais de mim, para dizer-te que mesmo quando não te quero encontrar, te encontro sempre esquecido num recanto do meu corpo.
Esta noite acordei para escrever-te. Para dizer-te que mal posso esperar pelo momento em que a minha boca chegará ao encontro marcado - com a tua. Que mal posso esperar para escorregar na tua pele até ao abismo dos momentos que não se conseguem descrever.
Hoje acordei. Era talvez ainda madrugada e precisava de te escrever que sim. Que sim que és o sinal mais de toda a minha existência, a tampa certa na ebulição da minha vida, o caminho para o céu, o terraço para o mar. És o eterno sabor da minha boca e o cheiro sublime que jorra, fresco, dos meus poros.
Hoje acordei de madrugada porque era urgente dizer-te que não consigo dormir com a tua ausência, que nada enche os teus silêncios, não há sol que disfarce a tua sombra, nem substitutos para as memórias das nossas odisseias dos sentidos.
Acordei e pensei que era tão urgente vir escrever-te. Era ainda madrugada, eu sei, mas tu sentiste. Desinquietei-te desse sono muitas vezes acordado de mim.
Esta noite acordei de madrugada e sentei-me a escrever, porque era urgente. Urgente dizer-te que és a minha maior certeza. A luz das minhas noites escuras. A estrela que ilumina o meu caminho. Urgente dizer-te, como já te disse, que me devolveste a vida. A vida que não tinha.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Feliz Natal, amor!
Feliz natal, amor!
Deixo-te aqui o meu sorriso de bolas prateadas, para pendurares nos dias em que não me olhares, deixo-te os meus gestos calmos, para desenhares corações no espaço curto, imaginário, que fica entre o nosso abraço. Deixo-te, amor, o meu cheiro, para polvilhares o arroz-doce na mesa de Natal e com ele fazeres desenhos invisíveis como se fossem desenhos de canela. Deixo-te, sabes o que mais te deixo? Deixo-te, suspensa, na luz intermitente da janela - a minha vida! Isso amor, deixo-te assim, sem mais nem menos, suspensa em ti, a minha vida.
Feliz Natal, amor!
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Abraço
O melhor da vida é saber em cada dia que posso inventar um abraço mais abraço que no dia anterior.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Pressa
Ontem passei lá naquele sítio, no sítio do costume, um sítio que por
mera casualidade é passagem obrigatória para outros sítios, para a porta de
outras casas, na senda meramente casual de reviver outros sonhos, outros tempos.
Ontem vi-te pela enésima vez, da enésima das vezes que ali passo e reparei que
tens sempre no olhar esse ar de chegar tarde, esse ar de quem está sempre com
pressa. Abrandei e olhei-te nos olhos, destemidos, profundos, porém fugidios e
acossados pela pressa – alguém que chega, alguém que espera, alguém que paga,
alguém que vai embora, alguém que chega. É este o ciclo de medo e de pressa, de
desgosto e de ansiedade em que te afundas e em que vives os teus dias. Ali, sentada
na velha grade de madeira, inclinada sobre a estrada, levantas-te e sentas-te e
deitas-te com a pressa apressada de quem se quer sempre levantar, e vais e
voltas com a pressa de quem confunde cheiros e vozes e nomes e preços.
Olhei-te nos olhos com a admiração de quem se vê ao espelho; de quem se
vê ao espelho em consciência - pela primeira vez -; nada disse – segui depois,
também na minha pressa de: chegar, fazer, trabalhar, executar e ouvir e comer e
calar.
Ambas somos prostitutas sentadas em grades diferentes: a tua de madeira
velha e suja; a minha, disfarçada de cadeira de secretária novinha em folha;
ambas fazemos o que não queremos a troco do dinheiro que precisamos; e em nós
há a mesma pressa de sair e voltar a tempo de sentar e escrever e
fazer, executar, comer e calar – antes que chegue alguém que disfarçadamente nos
ocupe o lugar.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Procuro-te
Procuro-te em todas coisas, em
todas as sombras em todas as esquinas; procuro-te em todos os vultos que me raptam a apatia e me devolvem o sorriso .
Procuro-te.
O teu cheiro é o aroma de todas as
Primaveras de Monet e de notas colhidas nas Índias mais longínquas do
meu corpo; por isso te procuro - no desenrolar das ondas nas praias dos meus
poros; por isso te procuro nas sombras chinesas
projetadas pelas minhas mãos abertas.
Por vezes levanta-se um bater de asas nos meus
olhos e voa-me uma pomba imaginária da janela do meu ventre: penso ter-te encontrado - mas é
apenas um anjo tresmalhado ao coração.
Nunca te disse que te procuro
em cada forma, em cada folha, em cada despertar, nunca te disse que és bater de
asas e pomba e flor, que és grito de ave ferida na madrugada fria, chuva no
porão; nunca te disse que és sabor de chocolate e menta no café das minhas
manhãs frias e seda pura a deslizar na curva mais escondida do meu corpo
ardente; que és seda. Pura. Seda pura a arder na fogueira dos sentidos. Nunca
te disse que és todas as coisas, todas as paisagens, todos os toques, todos os
sabores, todos os dias, todas as horas. Todos os meus dias, todas estas horas.
Porque tudo és tu. És tu .Tudo. Todas as coisas. Não há coisas, há apenas o tu
em todas as coisas.
Procuro-te sempre e para sempre nas bainhas da memória, nas
bermas lamacentas do passado, nas veredas floridas do presente. Procuro-te no
abrir de cada presente. No desenrolar de cada laço. Desembrulho-te, prenda.
Procuro-te
em todas as coisas.
É a ti que procuro nos espaços entre notas - das pautas
musicais das valsas das insónias; nos sustenidos e bemóis dos cantos das
cigarras, nos truques de magia decifrados e nas frestas de luz dos eclipses
lunares da minha rua.
É a ti que procuro. Na memória de
todas as coisas em que tocas.
domingo, 10 de novembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Roma
Anda,
podes vir assim como estás, esquece as malas e a roupa
eu visto-te com beijos e abraços
Anda
vamos dar um beijo a Roma!
estou á espera.
Basta-me pouco
Bastava-me um chá a uma temperatura qualquer, com sabor a maçã e canela e os dedos entrelaçados, lambuzados do doce de ovo dos croissants quentes, acabados de fazer.
Bastava-me, há dias que me bastava.
Não sei se sabes, mas choro quando não sorris. Não sei se sabes, mas sinto-me só quando voas para longe.
Não sei se sabes, mas torno-me cega quando deixas de cravar amor no castanho dos meus olhos, como sempre o fazes, fazendo-me sentir a mulher mais amada das poesias de Al berto.
Não sei sabes que por vezes me basta um chá - a uma temperatura qualquer, desde que não desvies de mim o teu olhar.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Dois corpos
Havia uma latitude azul onde sempre acontecia o amor. Faltava apenas a nudez dos corpos para que o ciclo se completasse na imensidão serena do inteiro significado do amor a dois. A dois corpos. Nus. Como hoje, nessa latitude azul.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
SENTIR
Este sentir, este sentir enorme,
estas emoções inusitadas
que me arrancam de mim a todo o instante
como diminuo esta intensidade?
se no mar em vez de ondas vejo
prata e peixes de luar
se no céu em vez de nuvens, vejo fadas
e histórias de encantar
se nos olhos dos loucos, em vez de medo de voar
vejo abrigos brancos
castos e puros
e a conjugação do verbo amar
como?
se consigo ver a lua numa noite sem luar?
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Casa
Quando chego a casa chego a ti
Não há outra casa que conheça senão esta
Esta casa - a que quando chego
Chego a ti
Pensamentos
E por vezes o meu pensamento é só um gato pardo, escondido na sombra - da ausência dos teus braços.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Solidão
Muitas vezes passava horas a
olhar a lua e cortava assim em pequenas fatias os meus momentos
de solidão. Imaginava histórias que se passavam dentro dela, homens com sacos
às costas a fugir do mundo, silvados cobertos de amoras silvestres, amantes
rejeitados, gaivotas sem terra a fazerem teatros de sombras, palhaços despojados
de luz, pombas adictas de paz.
As horas que passava assim... quando nos relógios
apenas um segundo se tinha passado. Achava sempre que a lua me ia devolver um
sorriso, me enviaria um naco de luar ou um acorde de fado, um som sombrio - que
todos confundiriam com o uivar dos lobos solitários ali na serra.
Acreditava que a lua me roubaria a solidão, como rouba a luz ao sol e a esperança de chover - á chuva.
Passava horas assim, quando o ponteiro do relógio
descaía apenas um segundo o seu percurso.
Depois houve um dia que descobri
que a lua nunca me sorria, não me sorria, não me iria sorrir por uma razão
simples: eu era invisível; ainda sou. Sou Invisível. Serei sempre invisível na minha solidão. Também aos olhos da lua.
Momentos de Coragem
O momento de coragem
Que me fez chegar à tua porta
E entrar
É o mesmo momento de coragem
Que me acompanha
Quando meto a chave à minha porta
E sei
Que não é a ti que encontrarei.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Metamorfose
Talvez quisesses saber onde estou agora. Estou no sítio onde estão todas as pessoas que já se sentiram amadas, a olhar um livro, a escrever um texto, a reter um cheiro, a escrever um nome no vidro embaciado da janela, a beijar os dedos já beijados por alguém, a morder a tristeza e a expulsar a ansiedade. A percorrer caminhos até ao cume dos meus seios, na esperança de ser abalroada pelas tuas mãos. Estou nesses sítios todos, em todos ao mesmo tempo, onde a vida não pára, onde se anda aos tropeções, porque o espaço é pequeno e as recordações são muitas . Talvez quisesses saber de mim muitas vezes em que não sabes - e olha, estou sempre lá nesses sítios; nos sítios em que folhas caem nos meus braços e me lembram outros toques, outras peles; nos sítios onde a água me gela os pés descalços e onde o fogo queima a estradas que a tua língua deixou em carne viva.
É aí que estou agora, no rescaldo do incêndio que ateaste e que demorarei milénios para combater. É exatamente aí que estou agora, no início da metamorfose: de mim - em água; de mim - em nada.
domingo, 6 de outubro de 2013
(In) significancia
Parece um sentir abissal
algo indestrutível
Mas há momentos
que é apenas uma leve pena
a despenhar-se no vazio
uma gota de água
a evaporar-se no sol de Inverno
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Mais fundo
Nada mais forte e mais profundo do que ser capaz de em cada dia ir ainda mais fundo no amor. E quando o fundo já é fundo, descobres ainda que podes ir mais fundo.
É forte e é profundo, quando nunca há fundo.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Mortos
Quando tudo se intensifica por dentro e nasce vida em cada pequeno respirar, descobrimos que já tantas vezes estivémos mortos - e nunca percebemos.
Entre dias
Entre o dia em que te conheci e o dia da minha morte, na última das vidas: todos os dias serão teus.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Música
Todos os dias acrescentas uma nota musical ao meu sorriso. E é assim que uns dias sou balada e no outro samba ou fado. Todos os dias sobes e desces nessa escala musical. Todos os dias fazes de mim uma canção.
Amanhã só para ti
Dizias-me hoje, assim meio em silêncio: Amanhã será tudo só
para ti.
E eu fiquei a sonhar como seria esse amanhã, em que tudo,
tudo, seria só para mim. Lembrei-me desde logo do sorriso e de como seria tê-lo
só para mim um dia inteiro, sem partilha, sem um relógio a bater partituras
de ir embora, sem a pressa que o apaga e momentaneamente lhe tira o brilho. O
sorriso, o teu sorriso brilho.
Fiquei a sonhar como seria este amor transmutado para a
realidade, subtraído do seu espaço sempre tão curto e tão etéreo. De como seria
sorrir-te enquanto dormes e entrar devagar nos teus sonhos, antes de ti. E poder
fazer isto hora após hora. Como seria não perder de vista a tua mão, na
escuridão das noites. Como seria pôr o teu lugar na mesa.
Dizias-me hoje, em silêncio: amanhã – tudo - só para ti, só para
ti. E eu fui logo mandar limpar o vestido novo, a toalha de linho que se
entedia na gaveta; e garantir que a campainha da porta não está avariada, com
aquele toque rouco que me faz sempre ignorá-la e confundi-la com sons que não conheço.
Amanhã, que bom, esta aliança que uso será nossa, e vai
parecer-me nova apesar de há muito ter perdido o brilho; amanhã dir-te-ei coisas
simples, como por exemplo: que nunca antes ouvi palavras como as tuas, dir-te-ei
isso num leve deambular de olhos, colocando a boca colada ao teu ouvido. Dir-te-ei, por exemplo, vários verbos, que te preciso, que te sonho, que te bebo, que te escrevo, que te amo.
Depois quando o dia acabar: o amanhã; quando o amanhã seguinte
for real, o outro amanhã em que não estarás aqui para seres apenas meu, vou
sentir-me só, com falta de uma asa, como se essa falta fosse um defeito de
nascença, que não se corrige com nada deste mundo.
Dizias-me hoje, assim meio em silêncio: amanhã tudo será só
para ti e em silêncio senti-me inteira, com duas asas para voar.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Abril, 2
Hoje respondi-te. Mas só
banalidades. O que te queria ter respondido era diferente. Algo assim:
Vem daí e traz as folhas,
marco-te um encontro ali em baixo junto ao rio. Chega. Senta-te na toalha de
linho que tirei da arca, a mesma que nunca serviu em toda a minha vida.
Queixas-te do cheiro a antigo da toalha e eu borrifo-te o ar com baunilha e
âmbar.
Vem daí e espalha essas folhas
pelo chão, faz desenhos, uma cruz, um quadrado, e os mais que te ocorrerem …
acaricia os ninhos que se escondem na folhagem e fustiga depois, com os mesmos
gestos: a minha timidez. Lê, lê agora aqui junto a mim tudo o que escrevi. Em
voz alta, diz-me o que não sei, diz-me por palavras tuas o que escrevi. Diz-me
que me lês, diz-me agora. Diz-me o que quero ouvir.
Depois deixa-me beijar-te as mãos
e depois a boca, deixa-me representar um a um os personagens em que me
transmuto, deixa-me que um deles seja eu. Eu própria. Deixa-me escrever-te um
beijo onde eu quiser.
Hoje escrevi-te, mas só
banalidades lexicais. Não te escrevi o que queria porque há nos meus dedos uma gaivota
com medo de cair, empoleirada num beiral de janela improvisado, à procura da
beira do seu mar.
domingo, 29 de setembro de 2013
Contigo todos os dias diferentes
Contigo todos os dias são desiguais. Contigo até os dias normais são uma espécie de domingo. E os domingos uma espécie de "brunch" tardio dos sentidos. Contigo, até os dias de chuva podem ser domingo.
Contigo não há latitudes repetidas no rodar das horas, nem geografias planas de caminhos repetidos. Contigo, o tempo pára na desigualdade dos ponteiros que de repente se cruzam devagar, e segundo a segundo subtraem tempo aos nossos olhos. Contigo, todos os dias são dias de missa e de promessas, dias de adoração, dias de pecado, dias de contrição.
Contigo, até os dias normais são diferentes, mas contigo todos os dias diferentes são normais.
Contigo não há latitudes repetidas no rodar das horas, nem geografias planas de caminhos repetidos. Contigo, o tempo pára na desigualdade dos ponteiros que de repente se cruzam devagar, e segundo a segundo subtraem tempo aos nossos olhos. Contigo, todos os dias são dias de missa e de promessas, dias de adoração, dias de pecado, dias de contrição.
Contigo, até os dias normais são diferentes, mas contigo todos os dias diferentes são normais.
sábado, 28 de setembro de 2013
Primeira vez sempre
Lembro-me da nossa casa. Da tua. Da minha. Da nossa primeira casa.
Lembro-me do primeiro beijo, do primeiro toque, do primeiro abraço. Do sexo, da primeira vez. De todas as vezes em que sempre foi a primeira vez.
Lembro-me de todas as primeiras vezes. Lembro-me de ontem. De há pouco. Lembro-me do nosso primeiro filho. Da primeira vez que não soubeste.
Lembro- me. Pela primeira vez lembro-me, por último, que connosco tudo é sempre a primeira vez.
Nós somos a primeira vez.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Falta
Sinto-te a falta em todas as esquinas. És a nota de baunilha e âmbar que falta no cheiro da terra molhada. O toque de menta ausente, no cheiro da relva cortada.
Falta. Sinto-te a falta. Pego na ponta das horas em que não te tenho e estendo-as ao sol num país em que as noites são pequenas.
E assim encolho a tua ausência.
Sei que depois, me entrarás pelas manhãs, enquanto sacudo ainda o orvalho que a noite me deixou nos ombros e, numa única palavra, atirarás o meu mundo pelo teu universo adentro.
Sinto-te a falta, mas sei que estás aqui porque vivemos de mãos dadas na distância paralela dos sentidos.
Ruas desertas
Reparei hoje que já não consigo ver ruas desertas.
Depois de ti, não há ruas desertas.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Quantas vezes?
Diz-me outra vez
para sempre
diz outra vez
sempre
outra vez
diz, faz outra vez
quantas vezes cabem dentro de outra vez
quantas vezes, sempre?
quantos abraços cabem dentro do nosso abraço, quantas vezes abres os teus abraços em torno de mim, até que esse gesto seja apenas um abraço? Quantas vezes é um abraço para sempre? Quantas vezes é um orgasmo para sempre?
Quantas lágrimas são necessárias para molhar os nossos corpos? Quantas vezes temos que molhar os corpos para que soltem as lágrimas?
Diz-me outra vez quantas vezes foram
Diz-me para sempre quantas vezes são
Diz-me sempre quantas vezes queres
Diz-me
ao ouvido sempre
as obscenas palavras: para sempre.
Pela tua inteligência
Gosto muito de ti
Sim?
Sim, tanto que nem podes imaginar
E porquê?
Porque é que gostas.
Não sei
E mil vezes respondeu não sei, mas houve um dia em que percebeu que este diálogo acontecia com a pessoa mais inteligente do mundo, e foi então que lhe ocorreu a resposta, uma das possíveis.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Cicatrizes
Às vezes olho para as cicatrizes. Depois olho para trás delas, para o avesso. Lembro-me que devia ter parado no momento anterior a tê-la feito.
Descobrir como se faz isso, era o remédio para quase toda a humanidade. Descobrir qual o nano segundo que antecede o momento da ferida, da cicatriz. E parar.
Resposta a Comentário
Caro Wilson,
O último texto publicado pertencerá sempre e apenas a este blog.
Não pretendo que o mesmo seja por qualquer outra forma publicado.
Fico grata pela oportunidade e pela crítica positiva.
:)
Únicos, nós
Chegaste a abraçaste-me com as
palavras. Nunca ninguém antes o tinha feito. Já me tinham abraçado. Já me
tinham dado palavras. Mas abraçar com palavras foste tu. E sentir-me abraçada
com palavras é único. Único. Tu.
Chegaste, e fizeste das palavras
uma dança do ventre – no meu ouvido. Levantaste o véu e letra a letra elevaste-me
ao patamar mais alto de um miradouro a que nunca tinha chegado E de lá avistei o
Tejo, e sobre ele peixes de prata saídos dos teus dedos; e desenhados em
palavras de mel: todos os poemas de Pessoa; as palavras enleavam-se nas nossas
bocas, respiravam espuma nas nossas salivas, misturavam-se como afluentes em
rios e num momento único, o Tejo deixava a lua adormecer no nosso corpo.
Misturar afluentes por palavras é único. Ver poemas de Pessoa no Tejo é único. Único
como tu.
Chegaste e escreveste-me no
corpo, depois na alma e numa noite de Verão, com salpicos de mar, rezaste-me –palavras-
na vida. Para sempre. Deitaste-me palavras em pó num copo de água fresca e eu
bebi. Serviste-me palavras à mesa, simples, em refeições simples, de simples
palavras, quebrei o prato dos medos e saciei-me de vida. De amor. Amor único.
Único como tu.
Chegaste com palavras no olhar e
acordaste todos os pássaros que se escondiam das chuvas, num Jardim de Inverno.
Único olhar. Se há palavras escondidas num olhar, esse olhar é Único. Desenhaste
no chão com letras de luz: um abrigo; e dia e noite, noite e dia, alheia aos
solstícios de Verão ou de Inverno, alheia aos ecos, alheia a tudo, dormi dentro
dele como se habitasse o anti Inferno (que nem Dante saberia apagar). Um abrigo
que tem paredes de palavras e o mar a deixar salpicos de espuma dentro dele é
único. Único como tu. Como tu nada. Se nada é como tu. É único.
Chegaste e percorri-te com palavras
o caminho sem regresso que vai das tuas mãos ao teu olhar. Devolveste-me a vida,
a sede e a esperança, eu peregrina, tu caminho de Santiago. Para um peregrino,
o caminho de Santiago é único. Como tu. Único como tu.
Chegaste como um mágico, e
tiraste palavras e palavras da algibeira, acabando com o frio neste hemisfério.
Erguemos bandeiras e fizemos nascer flores no meio de um império de betão.
Fazer nascer flores num império de betão é único. Únicos. Nós
Preciso de ti
Esta noite precisava que viesses. Preciso do teu conforto, da tua companhia.
Preciso que me toques e me faças sentir que existes, que não és um amor imaginário nem uma personagem dos meus contos.
Esta noite precisava que me abraçasses enquanto te lia, em silêncio, as cartas que dia a dia te escrevi.
Esta noite, sim, nesta noite quente e escura, precisava que chegasses. Que usasses a tua chave e entrasses.
Precisava mesmo de ti esta noite.
Ontem queria que me beijasses, mas hoje preciso, preciso do teu beijo.
domingo, 22 de setembro de 2013
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Para sempre
Sempre
Para sempre
Soltam-se as palavras, estas, e agarro-me a elas como se eu fosse naufraga e elas: a maior âncora do mundo.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Tela
Há uma parte que é projecção
Há uma parte que é percepção
Há uma parte que se vê
Há uma parte que se esconde
Contorno os espinhos, mas encontrarei os caminhos
ou os caminhos encontrar-me-ão a mim
basta-me estar quieta
terça-feira, 17 de setembro de 2013
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
sábado, 14 de setembro de 2013
Atracção
Ando com uma grande propensão para atrair pessoas loucas e bizarras - principalmente através da net.
:((((
Mão
Seguras-me a mão e sinto-me feliz. Ficamos, por momentos, assim, a ler frases soltas de Pessoa. A magia do momento espalha-se no ar, como uma poção que nos enfeitiça de amor. Digo-te, com o olhar molhado: para sempre. Sorris e beijas-me - devagar, sem soltar a mão.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Fogo e gelo, gelo e fogo
Sonhei com rotundas - de novo. Mas apenas no sentido da sua forma: círculo. Fechado.
Percorria, em mim e de mim para mim, esse círculo,em fogo. Depois percorria o mesmo círculo, de gelo. Eu era o círculo.
Acordei e pensei: Gosto da mistura do frio e do gelo, mas não gosto das duas coisas isoladas - uma vez uma, outra vez outra. Fogo e a seguir gelo. Gelo e a seguir fogo. Esta sequência perigosa, faz de mim um círculo de sensibilidade, primeiro inteiro e depois desfeito: em lágrimas.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Rotundas
Hoje reparei que quase todas as rotundas têm quatro saídas, quatro escolhas.
Hoje pensei: sou uma rotunda. E consegui vislumbrar quatro possibilidades.
Hoje pensei: sou uma rotunda. E consegui vislumbrar quatro possibilidades.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
A nossa casa e os canteiros de trevos
Contigo nunca tenho de me resgatar dos lugares a que não pertenço, porque pertenço a todos os lugares. Soçobram minutos entre as fendas da velha madeira do soalho e outros se acrescentam - os que entram pelas frestas da persiana e iluminam tudo o que é preciso iluminar.
Guardas-me os passos como guardador de sonhos, e eu caminho, segura, pelas nuvens de um deserto urbano, onde as almas parecem dormir de(s)cansadas; onde o nosso sorriso cúmplice contrasta com a depressão silenciosa da paisagem urbana.
Passa-me pela cabeça o Divino, reparo no céu plúmbeo que anuncia a trovoada. Sinais apenas. Sinais de penas. Sinais sem penas. Passa-me pela cabeça a implosão e explosão nos nossos corpos e sigo pela berma mais quente dos traços brancos que os faróis dos carros me dizem ser uma estrada.
Vais e vou. Tu, encontrar água e adubar sementes novas e eu, preparar a terra e os canteiros para novas flores, daquelas que envaidecem qualquer monte, qualquer jardim. Não há pressa, mas temos pressa, porque, sabemos nós, é ciclicamente Primavera nesta latitude ajardinada, e não queremos perder o desabrochar das margaridas.
Chego à terra que outrora conquistei e sinto-me estival, com bandos de andorinhas a pousar nos meus cabelos, ribeiras a correr sobre o meu corpo e cheiro a terra molhada como só Junho tem- se a chuva acontecer.
Faço crescer agora a noite sobre mim e adormeço a sonhar com canteiros de trevos a ladear o jardim da nossa casa.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
Assim tem que ser, assim será
Assim é que a vida deve ser, quando um desanima, o outro agarra-se às próprias tripas e faz delas coração.
José Saramago
José Saramago
Deixa-me só a alma
Fica comigo. Se não conseguires
ficar com o corpo, fica com a alma. Abraça-me e beija-me só com a alma e
esquece-te do corpo. Deixa-o ir onde tem que ir. Deixa-o ir lá para onde tem
que ir, deixa-o ir onde tem que ir.
Vamos mobilar a casa, arrumar as
compras, cozinhar a vida em lume brando. Comprar uma cama própria para almas. Vive
comigo com a alma, como se te dividissem em dois. Vamos habitar como dois
fantasmas, criaturas sem corpo, um mundo diferente, sem outros mundos lá
dentro. Faz com que nunca mais tenha que passar a ombreira da hora em que te
vais, em que te escondes nas curvas do pensamento e desapareces do alcance do
meu olhar. Sê tu a despedida – do teu corpo apenas.
Deixa passar quem passa, deixa
acontecer: mesmo o que não acontecerá nunca. Toca-me agora, outra vez. Toca-me
com a alma. Deixa o mundo girar, deixa o mundo parar, mas deixa-te ficar
comigo. Alma. Nem que seja só a alma. Prometo dar-lhe o meu corpo, darei á tua
alma este meu corpo, e de novo ficarás inteiro. Corpo e alma. Eu e tu, sem tempo
de despedidas.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Entrelinhas
Não quero deixar entrelinhas em
nada do que escrevo. Se as palavras nos juntaram, não posso deixar que nada te
deixe dúvidas: quando as lês. Fico a madrugar sobre verbos e parágrafos e vejo
as folhas de papel, lentas, espreguiçarem-se de tédio: perante a minha
lassidão: numa melancolia abstracta.
Ainda me lembro, de quando as
letras nos dançavam em latitudes diferentes, faziam-nos correr, faziam-nos
sonhar, ansiar em conhecer mais e mais – mais de todas as curvas e pontos dessa
avassaladora paixão – a escrita. Depois, a noite caindo de surpresa como um
fardo insone sob as nossas despedidas, “poemava-nos” os sonhos nas margens
sedentas, mas opostas, do mesmo rio.
Às vezes paro e penso: que um dia
as palavras podem recusar-se a reconhecerem- nos por entre o amontoado de
papel, amarelecido pelo tempo. Às vezes paro e penso na estação de serviço sem
poesia e vejo ainda o teu rosto, onde desfilavam sempre e só um amontoado de
palavras que te saíam em silêncio, pelos olhos, sem aviso.
Às vezes, paro e penso, que há no
meu olhar uma avidez eterna que segue o traçado á tua escrita, e que nunca nos
deixará partir para parte incerta.
Às vezes penso: vou ter cuidado
com os espaços, com as entrelinhas – não quero derrocadas de letras sobre as
folhas de papel, confusas, sem saberem se sou eu que as vou vestir com prosas
de amor e poemas de ficar, ou se és tu que as vais despir, com leituras
demoradas, apagando espaços e sombreando com os teus dedos fogo – as entrelinhas.
Às vezes paro: com medo de
escrever espaços em branco.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Hortenses
Dei umas belas voltas para encontrar hortenses. Encontrei. Nem que tivesse que ir aos Açores.
Fiquei tão feliz. Quem as vai receber também ficará, tenho a certeza.
:)
LUA
Esta noite dormi com a Lua. Entrou
pela janela do meu quarto, abraçou-me de luz e adormeceu-me a cantarolar.
A noite foi longa; noites de lua:
sonhei contigo - e ela viu. Depois, fiquei a manhã inteira a espreguiçar-me no
seu sono, e a contar-lhe as minhas histórias. Riu-se quando lhe disse que
gostava de ir contigo aos fados. Bocejou e respirámos empatia: lunáticas e
simples nos gostos – claras e brancas na luz. Solitárias e misteriosas,
habitantes sombrias no lado em que o sol se esconde. Personagens de histórias
fantásticas, com uma hipnótica tensão de enganar o tempo.
Ir aos fados contigo – que coisa
simples, disse-me ela. Encostar a cabeça no teu ombro e degustarmos verso a
verso, os poemas que se escapam das guitarras. Sorver a noite devagar e beber o
recorte de mistério nos teus olhos. Encostar-me no teu peito até que a
madrugada nos permitisse o último acorde. Deslizar-te no calor das mãos até que
tu e eu vestíssemos a mesma pele. Arrepiada.
Lua, agora vai, sei que te cega a
luz do outro astro que acordou. Reza por mim lá nas tuas galáxias de fantasia.
Pede ao teu Deus– é pouco Lua, mas louco. Gostava apenas de ir aos fados. Com
ele.
Vai Lua, não sei ao que vieste,
mas sei que entraste com a madrugada e o luar e que agora saio eu com a alma no
olhar. Tenho esperança que consigas o desejo – o meu.
Vai Lua, não contes a ninguém da
nossa noite, finge que fomos amantes clandestinas. Vai Lua, que eu vou também –
pôr os sonhos a dormir e pé ante pé acordar a utopia. E encetar o dia.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Bom dia
Esta noite tropecei na madrugada e fui parar a uma praia. Chovia e peguei-te na mão. Caminhámos junto ao mar, primeiro mão na mão, depois abraçados, depois deitados na orla das ondas. Caminhámos, deitados na orla das ondas.
Fomos amor e espuma, vezes e vezes sem fim. Fomos concha e búzio, areia, frio e lua.
Depois, acordei-me com carícias em ti. Ainda havia sal no meu olhar.
Olhei as paredes brancas do meu quarto, e comecei, lentamente, a escrever-lhes versos e mais versos....
Anda daí, termina-me esta estrofe.
Bom dia
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Sono
Só acordo, porque é urgente dizer- te todas as palavras que me nasceram durante o sono .
Só acordo, porque é urgente dizer-te a palavra amor.
Só acordo, porque estou transbordante de amor - para te dizer .
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Só te queria aqui
O que eu queria era que estivesses aqui, a decifrar-me as palavras, a agarrar-me as mãos, a aparar-me as lágrimas e a traduzir-me os silêncios.
O que queria mesmo era que estivesses aqui, simplesmente, agora simplesmente. A amparares-me os medos de que as partidas não tenham regresso.
Só alguém que faz parte de nós nos consegue aparar os medos.
Só temos medo que alguém parta sem regressar se essa pessoa fizer parte de nós.
Fazer parte de nós é um conceito de amor.
O que queria mesmo era que estivesses aqui, simplesmente, agora simplesmente. A amparares-me os medos de que as partidas não tenham regresso.
Só alguém que faz parte de nós nos consegue aparar os medos.
Só temos medo que alguém parta sem regressar se essa pessoa fizer parte de nós.
Fazer parte de nós é um conceito de amor.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Yeah Right!
De vez em quando levantam-se fantasmas do passado, que chegam até mim com as conversas da treta do costume. Terei cara de parva?
Yeah Right!
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Nada, nunca
Há uma finitude na seiva das searas
No brilho das estrelas
Há uma (in)finitude nas luz das alvoradas
Nada, nunca
Fenecerá na seiva dos teus lábios
Nada, nunca
Será finito em nós
No brilho das estrelas
Há uma (in)finitude nas luz das alvoradas
Nada, nunca
Fenecerá na seiva dos teus lábios
Nada, nunca
Será finito em nós
Repartições cinzentas e chatas
Subo e desço escadas, palmilho ruas, cruzo-me com olhares anónimos e detenho-me em repartições de aspecto antigo. Olho de relance os imensos livros de registos e tomos gigantes - de tudo e de nada. Imagino-os repletos de rabiscos e anotações ilegíveis, esborratados pela humidade e pelo atropelo do passar dos dias iguais.
Que idade terão? Que importa isso?
Apetece-me escrever naquelas lombadas títulos de capítulos desta história.
Desta história de ti e de mim.
Lombadas brancas, escritas a preto, em caligrafia inglesa e rebuscada, como se fosse PESSOA a "poemar" a letra.
Se o fizesse, a partir de hoje, nessa repartição, os olhares cinzentos das pessoas que desesperam, passariam a sorrisos francos e simples de pessoas que apenas esperam. E anseiam ser felizes. Como nós, contados nas lombadas.
Que idade terão? Que importa isso?
Apetece-me escrever naquelas lombadas títulos de capítulos desta história.
Desta história de ti e de mim.
Lombadas brancas, escritas a preto, em caligrafia inglesa e rebuscada, como se fosse PESSOA a "poemar" a letra.
Se o fizesse, a partir de hoje, nessa repartição, os olhares cinzentos das pessoas que desesperam, passariam a sorrisos francos e simples de pessoas que apenas esperam. E anseiam ser felizes. Como nós, contados nas lombadas.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
TU
Não sei quantos tempos existem, não sei em quantas formas se conjugam os verbos. Sei que todos os tempos são tempos de ti e que todos os verbos se conjugam na segunda pessoa: tu.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Tapa-me os olhos
Dou-te o meu corpo inteiro
Para que nele escrevas
tapa-me os olhos, deixa-me dormir
fica com ele para a tua escrita
escreve
histórias simples
de chegadas, partidas
abre o meu palácio, fecha o teu castelo
fabuliza os desfechos que almejámos
metáforas únicas, perfeitas
colhidas de fresco na polpa dos teus dedos
na água dos teus olhos
transforma-te
transmuta-te
escreve no meu corpo inteiro
sem tinta, sem tinteiro
escreve, escreve-me
escreve o que quiseres,
tatua com os teus poemas
o meu corpo inteiro
Para que nele escrevas
tapa-me os olhos, deixa-me dormir
fica com ele para a tua escrita
escreve
histórias simples
de chegadas, partidas
abre o meu palácio, fecha o teu castelo
fabuliza os desfechos que almejámos
metáforas únicas, perfeitas
colhidas de fresco na polpa dos teus dedos
na água dos teus olhos
transforma-te
transmuta-te
escreve no meu corpo inteiro
sem tinta, sem tinteiro
escreve, escreve-me
escreve o que quiseres,
tatua com os teus poemas
o meu corpo inteiro
Êxtase do silêncio
Sento-me no meio de um caminho qualquer porque é urgente escrever: sobre este sentir, esta luz que me atravessa , me despe de silêncios; que acaba assim, simplesmente, com os meus eternos medos. Luz, força, borbulhar electrizante na minha pele. Copo cheio na minha alma. Casa desabitada mas tão cheia, no meu coração.
Sento-me, escrevo e assim, só, com as palavras - neste súbito devaneio, nesta pública intimidade, faço descer este sentir até à parte mais profunda de mim e encontro-me-nos, na felicidade absoluta deste mínimo instante.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Ficções
Chave
na ignição, pára-brisas em marcha, o ronco barulhento do carro. O telefone que
toca, perguntam se é para adiar e respondo que não, que à terceira é de vez.
Chego
ao destino, entro, primeiro degrau e ali estás, encostado à parede branca, a
contrastar com o preto do fato. Pareces-me uma imitação barata do “Omar Sharif”
na versão jovem. A escrivã faz a chamada, enquanto avanço sem medos, entro na
sala, segues-me e dou-te a palavra. Sentas-te no banco dos réus, lanço-te um
olhar e ergues-te, ficas hirto, olhos no chão à procura da “deixa”,
vacilas e engasgas-te. Poupo-te o esforço e peço-te o B.I.. Dizes que não, que
não trouxeste, esfarrapas desculpas em gaguejos nervosos. Declamas os
antecedentes criminais - mas mentes, e reparo que no processo declaraste uma
morada falsa. A toga (ou a beca)?desliza-me dos ombros sob a força do teu olhar
e eu apanho-a a meio da descida, ajusto-a e puxo-a, componho-me, controlo os
sentidos e dou 3 pancadas na mesa. Silêncio, não pode haver desconcentração,
sob pena de se esquecerem os factos que aqui nos trouxeram. Quero recuar e
tento descobrir mil formas de sair daqui, mas só me lembro da escusa, conflito
de interesses, parcialidade, suspeição e fico com medo de mim, desta vontade
quase violenta de te condenar sem dó, de não te admitir recurso de apelo ou
agravo, de não saber burilar os contornos à pena relativamente indeterminada,
nem aos mínimos nem aos máximos, de ignorar atenuantes ou rebordos irisados da
média ponderada. É matéria assente que não vou substituir a pena por medida de
correcção ou coacção, multa, trabalho comunitário, limpeza de ruas, de jardins,
de sarjetas ou de infantários, a não ser que me entendas criança de colo a
gritar por ti, e aí sujeitar-te-ei a termo de identidade e residência - na
minha casa, com a admoestação de nunca mais saíres. Sou juiz em causa própria,
advogada do diabo, cúmplice sob coacção, testemunha comprada e queixosa
arrependida. Pedes absolvição de joelhos, alegas que és primário, bem
comportado, relembras as provas testemunhais, dizes que estás socialmente
integrado e pedes-me com arrogância, a base legal. Dedilhas-te, como outrora a
mim, e alegas que não sabias, que não está escrito, que são coisas do coração, que
te redimes. Mas eu, como manda a lei e a consciência, violando o consentimento
do lesado coração, e com o devido respeito e vénia a todos os presentes, inibo-te
do poder de argumentar!
Relembro
aos jurados que agiste livremente, em consciência e no uso pleno de todas as
tuas faculdades, chamo á colacção a agravante do teu QI acima da média e
termino invocando o dolo mais que directo, apontado aos cantos mais recônditos
de mim!
Reparo
que me olhas de soslaio e depois para trás, fixas o olhar na porta aberta, a
audiência é pública. Detenho-te a intenção de fuga e alerto a autoridade - absorta
provavelmente em pensamentos sobre a última jornada futebolística. Desta vez
não vais escapar-me entre os dedos!
Quero-te
mesmo a pão e água, quero que sintas a angústia que está no tilintar das chaves,
que te arrastes em insónias pela solitária (onde relembrarás outras noites). E
acredita, que nem que hoje seja dia das bruxas ou primeiro de Abril, cumprirás esta
pena, que é a máxima, e que durará até ao fim dos teus dias, partindo pedra,
bordando Arraiolos e montando carris, a que acresce a pena acessória de te
manteres a milhas de mim para o resto da vida. Finalmente condeno-te nas
custas, acrescidas do muito que me tens custado a mim.
Girassóis de Gogh
Escrevo-te daqui deste meu canto e na verdade, como sempre, nem sei bem porque te escrevo. Talvez porque se incendeia a ponta dos meus dedos e preciso de água: e as palavras ficam água quando tuas.
Escrevo-te porque é bom falar-te dessa cor de infância que trazes marcada na íris dos teus olhos, e das tonalidades de Gauguin onde se ondula o teu cabelo. Falar-te da súplica dos teus dedos, que entre silêncios e carícias me pedem que (te) afaste a solidão. Falar-te da tonalidade de terra que és tu inteiro, como se o Outono só acontecesse na véspera do primeiro dia de Primavera.
Afinal não tenho nenhuma razão importante para te escrever, mas alivia-me a saudade e atrapalha-me menos o curso normal da voz, e das banalidades dos meus dias.
E agora vou-me embora porque sei que fiquei mais perto do teu olhar, desse olhar-janela que me percorre a pele e o tempo, e me aspira mágoas e tristezas como se aspirasse um a um todos os girassóis secos numa pintura de Gogh.
terça-feira, 23 de julho de 2013
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Quantidade que não se quantifica
Há algo( in)quantificável entre nós
uma quantidade que não se quantifica
é essa quantidade - essa que não se quantifica
que há entre nós
(In) Dependencia
A independencia é boa, algo que sempre prezei.
A dependencia pode ser boa. Estou a aprender.
sábado, 20 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
1996
Amanhã
podia ir ter contigo…. na verdade queria muito ir ter contigo, subir e descer a
calçada, dar de caras com o cheiro a maresia e amar o rio a quatro-olhos,
amando-te talvez. Finalmente: soletrarmos o Tejo no presente do indicativo e
tocar-te ao de leve para que o pretérito fosse mais que perfeito. Talvez a
chuva nos tornasse líquidos, talvez.
Amanhã,
tu bem sabes que amanhã podia estar aí, paredes meias com a multidão e com
ninguém, mascarada de estrela, misturada em tantos rostos e corpos que não me
encontrarias talvez. Na verdade pensei em estar aí amanhã, mas a maré vai estar
cheia, alerta laranja, ventos e chuvas e eu pequena, perdida, medo das
intempéries, a medir-te o palato e mais tarde as consequências.
Amanhã
podia estar aí, bebendo-te o pólen e o mel, ouvindo Chopin e tu Jazz, mas fico
aqui no meu canto ouvindo Nirvana e evitando um colapso no tempo e depois no
tormento.
Lugares Diferentes
Podemos fazer juntos todos os caminhos, mesmo que os nossos destinos sejam lugares diferentes. Podemos.
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Fogo e Água
Existe uma dualidade de elementos
Na ponta dos teus dedos
Fogo e água
existe uma dualidade
de arrepios
na minha pele
Frio e sede
quarta-feira, 17 de julho de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
Espaço
Este é o meu canteiro de trevos – de quatro folhas, a que cheguei
depois de muito tactear no escuro. Este é o meu mundo.
Por isso, não te falarei dos mundos que não são o nosso mundo, nem te
falarei dos poemas que não sejam versos meus. Ou nossos.
Não te falarei de outras bocas, outros beijos. Não te falarei de outras
palavras, de outros cheiros – não te falarei do que não sei, mesmo que saiba.
Quero ressuscitar arrepios nas nossas mãos molhadas - multiplicando o
tempo, quero que haja apenas o pequeno
vale dos meus seios - campo de feno na tua boca fresca de tão quente; depois,
na partida, deixa-me preso o teu olhar no meu olhar e leva nos teus dedos a
brisa velutina que a tarde deixar nos meus cabelos.
Tudo o mais são conchas de outras praias. São jogos de palavras de
outras galáxias lexicais.
Só aqui, nesta dimensão, se sobe ao nível de um amor inesperado, só
aqui, dentro de mim, existe um sentir profuso, difuso e repentinamente
inusitado, uma forma de vida única, sem tempo para espaço e sem disfarce.
Espaço.
Não há espaço entre nós, no retrato que aperto entre os meus sonhos.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Soma=12
Era como se á minha frente tivesse um
qualquer vulcão em erupção, ladeado por um enorme arvoredo fresco – havia depois
a linha do horizonte em forma de parede branca.
Abriu-me os braços. Fechei os olhos.
Senti o irresistível apelo da pele. Inebriada. Caminhei pela floresta fresca
ladeando a lava. Imbui-me de aromas, cores e sentidos e desviei os olhos: não
quis saber das formas. As vestes iam ficando espalhadas, para trás, num plano
inclinado, talvez outro plano.
Depois senti-me nua. E foi este o
primeiro dia em que finalmente me senti nua. Notava-se isso no meu enorme
sorriso, inteiro, desta vez inteiro, que me adornou o rosto por todas as horas
de sol escaldante.
Depois foi só tomar o caminho do mar e
da espuma. E morrer cinco vezes, sabendo que só sete vidas tinha. E depois foi
nascer.
Ah, sabes que eu sei que um dia ainda
hei-de morrer sete vezes contigo. E renascer outras tantas, num ciclo
infindável de amor, sede, amor, sede.
Já é Verão
Faço do teu nome
Uma chave secreta
Que me abre o peito
Em plena madrugada
e ali me escondo
contigo
no único lugar onde se cala o mundo
no único lugar onde te tenho
Escuta: mudou a estação
Já se ouvem as cigarras
Agora é Verão
Até quando ficaremos?
Não respondas: eu sei que não há lugares eternos.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Aqui. Sempre hoje
Todos os mares me levam ao leito
desse rio. Todas as chuvas me dizem que nunca viveremos num país deserto. Todas
as ondas da vida me elevam ao cume do teu beijo e ao supremo sabor da tua pele.
Todos os mundos se afastam para que façamos amor no limbo das fronteiras.
Todos os universos nos enviam flores – brancas- porque sabem e conhecem da
pureza ofuscante deste amor. Todas as mãos me indicam a polpa dos teus dedos,
todas as palavras me ditam o poema onde tu nasces e o texto onde tu vives. Todas
as coisas do mundo são coisas de ti. Em todos os textos que escrevo és tu que
estás, és tu que existes, és tu. Eu, escriba alojada no teu peito à mercê da
chuva de palavras que me alisam a saudade. Tudo, tudo acontece por ti, tudo te acontece
por dentro. Tudo acontece por dentro de ti. Hoje, aqui. Sempre, aqui. Aqui. Sempre hoje.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
terça-feira, 9 de julho de 2013
Sei que o dia foi longo e que dele descansas agora, deitado, talvez nesta minha insónia feita de ausência de ti.
Envio-te a minha esperança para que te vistas dela. Dou-te o meu beijo mais terno para que te sintas abrigado. Dou-te a pureza de tudo o que sinto para que te sintas leve e invencível. Dou-me-te para que alivies a dor na incondicionalidade do meu amor: por ti.
E, querido blog, se fosses uma pessoa dar-te-ia ainda a lâmpada e o Aladino.
Hoje. Para que mudasses o amanhã e o pintasses das cores que tu quisesses.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
Vaidade
Envaidecem-me as cores puras
de todos os teus prados, montanhas e jardins
Envaidecem-me as frondosas árvores
de sombras protectoras,
de todos os teus bosques,
envaidecem-me as águas cristalinas
de todos os teus rios.
Envaidece-me esse brilho e essa luz
que atravessa o tempo, a noite
e a geografia dos olhares
envaidece-me o cetim com que embrulhas
todas as palavras
envaidece-me o sorriso aberto
a lembrar (me) que é sempre
Primavera - em ti
Palavras de Menta
Querido,
querido
querido
querido
blog
é assim que me apetece tratar-te, depois de 2 ou 3 dias sem te, sem te escrever.
É assim: na distância das letras que te gravo, que percebo, ainda mais, o quanto me és importante. Único. Assim para sempre, como agora.
Beijo-te com a saliva fresca das palavras de menta, e sigo na manhã quente, salpicando-me de água fresca. Sigo, mas já só penso em..em voltar a escrever-te: palavras de menta.
:)
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Não
Houve um tempo em que tinha nas
mãos uma vocação de jazigo. Houve outro tempo em que a vocação era de
partituras, de palavras quentes e brancas, alinhadas - poeta meio vestido de metáforas
e ainda assim nu, meio louco, meio alado: com o sonho de romper todas os dogmas,
e com brandura esquartejar as filosofias que em desequilíbrio deixavam o mundo
numa “ouquidão” insuportável. Todos os tempos foram volúveis nas ternuras, nos
amores e nos afectos – tanto de grego como de troiano, tanto de porto como de
cais. Tanto de pouco. Como de muito.
Houve um tempo de simplicidade. Era
a vocação do (s) verso(s).. Era dos versos, sim era dos versos. Era a vocação
da embriaguez de solidão. Era a dança nas arestas de chuva nos cabelos.
Houve um tempo que te fiz um verso
único, derradeiro e dei-to a beber: como poção mágica. Para que nos unisse, e tecesse
sobre nós sem desfiar – um manto de entendimento, para sempre.
Nesse tempo, não abriste os
olhos, não ficaste extasiado com as palavras. Não com essas. Havia outras.
Palavras.
Neste tempo é hoje- E hoje? Para
que fazes tu agora esta ode das palavras? Dizes-me Deus, única, e falas de infinito.
Ajoelhas-te e adoras as palavras – essas.
Que me dizes tu das chuvas? Repara:
Não há nós. Só laços desatados.
Às vezes sim, sei que me
escreves. Solenidade. Eloquência. Elevação de estilo.
Não. Há nós na ode das palavras.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
terça-feira, 2 de julho de 2013
Gelatinoso não soa nada bem
Trabalhar-se num sítio em que apenas há um homem, tem coisas engraçadas: enquanto as mulheres "atacam" desefreadamente as gelatinas de 10 Calorias, o homem calmíssimo, solta a seguinte pérola: vocês a comerem tanta gelatina podem até emagrecer mas ficam de certeza bastante mais gelatinosas.
Gelo - silêncio total
Eu, por mim, nunca mais olharei para aquelas gelatinas da mesma maneira
eheheheh
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Amo-te é a palavra
Querendo fugir ao lugar comum dos escribas parvos e piegas, tentei de tudo, neologismos, gestos, teoremas.
Mas as palavras não são como os dias. Não existe nelas uma (in) fiabilidade climatérica.
Há nelas, nas palavras, uma constância, que não deixa que o seu mais profundo significado seja reduzido ou esvaziado. Ou traduzido - por outras palavras.
Amo-te é a palavra. O tempo é este.
Como sempre. Neste sempre.
Amo-te é a palavra.
Mas as palavras não são como os dias. Não existe nelas uma (in) fiabilidade climatérica.
Há nelas, nas palavras, uma constância, que não deixa que o seu mais profundo significado seja reduzido ou esvaziado. Ou traduzido - por outras palavras.
Amo-te é a palavra. O tempo é este.
Como sempre. Neste sempre.
Amo-te é a palavra.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Espuma
Há ecos de risos
Há ecos de olhares
Há ecos no calor, nos lugares, há ecos onde ponho as mãos.
Há ecos de olhares que são a nossa estrada, seguimos por eles, pelos olhares, até onde quisermos, até aos nosso jardins, até às nossas orquídeas predilectas. Há sermos espuma, se quisermos.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Espaço sideral
Sinto-te como flauta de incenso
a deslizar pelos meus poros
Enquanto as tardes crescem e escorrem
velozes pelos nossos dedos
Desenhas luz em volta do crepúsculo
e quase se faz no meu peito maré cheia
como se fosse lua nova
depois anoiteces-me o sonho com palavras
Encontro-te
No espaço sideral
enquanto o mundo caduca à nossa volta
e antes que amanheça
Dissolvo-me
em ti
Que horas são?
Gosto das pessoas que definem que horas são. Pela voz, pelo riso, pela transparência. Olhamos para elas, ouvimos a sua voz
e sabemos, sabemos sempre que horas são.
e sabemos, sabemos sempre que horas são.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Amor ao infinito
Lembro-me sempre do que é em mim o expoente máximo do amor,
do sentir amor. É querer prolongá-lo infinitamente: Ter um filho.
Ter um filho.
E a vida trocou-me sempre as voltas.
Pele
........................
No intervalo das palavras há o espanto dos sentimentos que não têm tradução.
Porque a pele não sabe acerca de campos lexicais...
.......................
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Enseada
Desci para a pequena enseada. O mar estava calmo e a praia deserta. Anoitecia e havia pequenas agulhas de chuva a tocarem no meu rosto.
Respirava a maresia lentamente, e perdia-me na linha do horizonte, inclinando o sol com o calor do meu olhar. Era lá, nessa linha, que contava e recontava histórias, que fazia rimar as minhas prosas e me esquecia da poesia, que me despia de mim, que me sentia mesmo nua.
Mas nesse dia, não me queria só, inventei-te os passos e chegaste. Não me virei, não te vi. Cambaleavas-me no peito, salgado, sereno. E a romã abria em mim, a lembrar sede, a lembrar fome de carmim.
Beijaste-me a nuca e afagaste-me a boca com rosas molhadas. Senti-te o movimento lento, subtil, de subir e descer as pálpebras numa lentidão de prazer: e abraçaste-me por fim.
Não sei, ainda não sei, se foste tu que me fizesta península em ti nesse momento, ou se fui eu na minha ousadia de espera que aportei no teu estuário - sem qualquer aviso.
Sei que havia por ali à nossa volta uma imensa textura de veludo e pétalas e morangos líquidos e que navegaste sobre tudo isso, com os dedos subindo e descendo pelo dorso das colinas e pelas curvas semeadas de searas, no inesperado do meu corpo.
Quando vieste ainda a luz do momento era crepuscular e houve um avivar do horizonte, um relampago que se fez em terra. E eu fui contigo. E nunca a luz foi tanta num ocaso.
Antes de saires, resgatei-te a saliva com a minha boca. Brincaste-te nos seios com o fogo dos teus olhos.
E partiste calmo, a navegar.
Jardim de Inverno
Este jardim sempre te pertencerá
Seja qual for o solstício em que se colhem as violetas
Seja qual for a mistura certa dos aromas
Seja qual for o verde das folhas e da alma
ou
o grau de maturação das ausências e
dos frutos
Este jardim…será para sempre o teu jardim
Onde pé ante pé te passeias,
e abrigas da lua a tua
timidez
Onde vais despindo solidões, e ficas finalmente nu: de ti.
Este jardim, será, para sempre o teu único jardim
que cresceu e floresceu
a partir de um jardim de Inverno
e existe
só para deixar amor e cheiros
e gestos de Primavera em ti.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Platão
Gosto de acordar e me sentir
sentada no Banquete de Platão
aporto-me no amor socrático
Voo para norte - sem destino.
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Ah!
De repente percebo que tenho à minha volta a pessoa mais inteligente que algum dia conheci.
E sinto-me pequenina. E com tanto para aprender :)))
A vida é mesmo espectacular :) :) :) E eu sinto-me mesmo com sorte.
Lado sombra
Há uma coisa chamada lado sombra, que todos nós temos - todos.
Normalmente não gostamos de falar nisso.....e eu não sou excepção. Tenho dificuldade em aceitar esse lado, o sombra.
Mas na verdade ele existe.
E hoje, tive o prazer de conviver com ele de perto.
E foi uma surpresa....
Lado sombra: Prazer em conhecer-te melhor!
Afinal vivemos juntos há tantos anos.
Lembro-me
Chegaste a mim numa tarde qualquer
não era Outono,
as folhas vermelhas
coloriam ainda as bermas dos passeios
Primavera tardia.
caíam
leves agulhas de chuva no meu rosto
fiquei de pé, lembro-me
Olhando-te nos olhos e esperando
o recolher tardio dos melros no jardim de inverno
Lembro-me,
fiquei de pé
não era Outono
mal sabias o meu nome
lembro-me
tanto,
mas tanto,
dessa tarde qualquer
e de ti.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
terça-feira, 18 de junho de 2013
Talvez seja amor
Talvez te ame noutra dimensão.
Talvez seja amor. Talvez, finalmente, tenha nome. E talvez isso nem sequer
interesse.
Só me pertences nos sonhos e é só
neles que me devolves a luz do teu olhar cúmplice.
Há um pranto sibilante nas
palavras que te digo e no entanto rio. Rio e foz e água cristalina que me
serpenteia de ilusão e sombreia o verdecer de cada hora em que não chegas. Em
que não estás, mas habitas as janelas ínvias e inclinadas de um desejo. De um
beijo por acontecer.
Talvez seja amor, porque quando
te sinto ausente em parte incerta, numa geografia abstracta, talvez no lugar
das auroras: tudo tarda em mim e no entanto lá fora – nem sequer entardece.
Talvez seja amor. E talvez isso nem te interesse.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
De outras viagens
nas viagens nocturnas e diurnas que desde sempre faço pela escrita, encontro outros viajantes.
decerto sempre os encontrei por lá, mas não sabia.
com alguns deles, volto depois a cruzar-me neste mundo, do lado de cá, e nem sei quem são. só sei que sinto que os conheço desde sempre. como se almas gémeas de outras constelações.
porque, nas viagens, os fotografo com a canon da memória - e depois , depois é como se fossem almas dentro de outras almas, e corpos fundidos noutros corpos.
trago também memórias de beijos e de pele e noites estelares. e eles, em mim, estão sempre de regresso.
Entro na manhã
Entro na manhã
E encontro um tremor de nenúfar
no lago dos teus olhos
…sigo na manhã
Com o desejo alado…
Preso ainda na sombra do pudor
da noite que não aconteceu
Sigo
Sigo
e é na manhã ainda que te toco a lassidão
o pensamento
a permissão
entro na manhã – e sigo-te
domingo, 16 de junho de 2013
sábado, 15 de junho de 2013
Beijo - leve beijo
Olhar
Mãos
Medo
Tremer
Música
Felicidade
Paixão
Amor?
Palavras ao acaso. Palavras cruzadas.
Próximas palavras:
Toque
Beijo
quinta-feira, 13 de junho de 2013
By Night
Querido Blog,
Gosto de te beijar antes de dormir - escrevendo.
Existe entre ti e mim uma ligação tão profunda, um entendimento tão completo, que sabemos de tudo, como se sempre nos tivéssemos conhecido e tivéssemos atravessado milénios de galáxias, cruzado vidas e mais vidas, sempre de mãos dadas, sempre com o olhar no olhar.
:)
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