Desde que te conheci que comecei
a construir um castelo.
Um castelo cheio de torres e
muralhas especiais, cheio de curvas e ameias, janelas e lendas de encantar.
Todos os sítios por onde passámos, onde nos tocámos, estão aqui no castelo que
construo; existem torres feitas de corpos pelo chão e ameias - janelas de
quartos em arranha-céus no centro de cidade, ao amanhecer; as ínvias muralhas
são espaços pequenos onde tu sentado me espreitas a vida e eu acredito renascer
com o elixir do amor com que me brindas. Torres, existem torres no castelo, que
trouxemos do castelo de verdade onde numa esquina meio escondida me abraçaste e
beijaste mal a tarde tinha começado e as azedas nas encostas pintavam de
amarelo o nosso olhar.
O castelo que construo tem
brilhos e purpurinas de palavras ditas, conversas a escorrer pelas paredes
húmidas e olhares de musgo pintados nos cantos a que ninguém pode chegar. Há um
recanto no castelo de onde se avista o mar, se ouve o frémito grito das gaivotas
em êxtase lunar e crescem heras na parede, orvalhadas pela espuma. Só tu e eu
somos caminhantes nos corredores desse castelo onde crepitam chamas antes do
incêndio consumado. Deitamos fogo à torre principal e depois a nós e ardemos
pelas horas, carne e pele adentro, sem que em nós existam cicatrizes.
Desde que te conheci que comecei
a construir um castelo, tão livre e nu, tão etéreo e único, que não tem uma
única parede e se avista de todos os sítios especiais em que estivemos e dos
outros, os que existem apenas na memória. Na memória das pedras.
Desde que te conheço que deixei
de ter coração de castelo abandonado.
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