A primeira vez que te escrevi um
poema foi com o olhar, um olhar no meio de tantos, ilustrado com a vontade de
beber da tua boca, um verso aceso no meio da cinza de outros versos. Era um
poema música, harpa, um poema primeiro abraço; um poema que nem eu sei porque o
escrevi: um poema quente e misterioso, de água e de branco, de querer e não
querer, de ti e de mim. Começava assim: “Sempre te conheci” e nunca terminava…
A primeira vez que te escrevi um poema
foi com o olhar, num dia em que nasceram mundos novos dentro do meu mundo; em
que a tua imagem ficou nítida e ampliada como num filme em câmara lenta visto
por lente microscópica. E tudo em ti era musicalidade e palavras, tudo em ti
era matéria de musa e limpidez. Tudo em ti era esperança e verso , como soneto
a sair metricamente emocionado da boca quente e doce de um “dizeur”; tudo em ti
eram metáforas improváveis a eclodir de um manuscrito por desvendar.
Houve um poema na primeira vez em
que te vi, um poema a anunciar a Primavera, melodias de tempo a fechar um ciclo
de nocturnos, a fechar a janela da desesperança e do frio que rompia as
madrugadas.
A primeira vez que te escrevi um
poema foi com o olhar. Com o meu olhar parado no teu olhar aberto. Escrevi-o e
adocei a tua íris, berlinde irisado de castanho e mel.
A primeira vez que te escrevi um
poema, foi na tua pele com a doçura de um olhar de mel. A primeira vez que escrevi.
Na tua pele. Foi com a doçura de um olhar. E nesse dia, respondeste num verso
que completou o poema a duas mãos, respondeste que me davas a maresia e os
cabelos soltos como borboletas, o escarlate das orquídeas por abrir,
respondeste que o meu corpo era o paraíso onde querias ficar até ao fim.
Respondeste tudo isto e no
entanto, não escreveste uma única palavra.
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