terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A primeira vez que te escrevi foi com o olhar


A primeira vez que te escrevi um poema foi com o olhar, um olhar no meio de tantos, ilustrado com a vontade de beber da tua boca, um verso aceso no meio da cinza de outros versos. Era um poema música, harpa, um poema primeiro abraço; um poema que nem eu sei porque o escrevi: um poema quente e misterioso, de água e de branco, de querer e não querer, de ti e de mim. Começava assim: “Sempre te conheci” e nunca terminava…

A primeira vez que te escrevi um poema foi com o olhar, num dia em que nasceram mundos novos dentro do meu mundo; em que a tua imagem ficou nítida e ampliada como num filme em câmara lenta visto por lente microscópica. E tudo em ti era musicalidade e palavras, tudo em ti era matéria de musa e limpidez. Tudo em ti era esperança e verso , como soneto a sair metricamente emocionado da boca quente e doce de um “dizeur”; tudo em ti eram metáforas improváveis a eclodir de um manuscrito por desvendar.

Houve um poema na primeira vez em que te vi, um poema a anunciar a Primavera, melodias de tempo a fechar um ciclo de nocturnos, a fechar a janela da desesperança e do frio que rompia as madrugadas.

A primeira vez que te escrevi um poema foi com o olhar. Com o meu olhar parado no teu olhar aberto. Escrevi-o e adocei a tua íris, berlinde irisado de castanho e mel.

 

A primeira vez que te escrevi um poema, foi na tua pele com a doçura de um olhar de mel. A primeira vez que escrevi. Na tua pele. Foi com a doçura de um olhar. E nesse dia, respondeste num verso que completou o poema a duas mãos, respondeste que me davas a maresia e os cabelos soltos como borboletas, o escarlate das orquídeas por abrir, respondeste que o meu corpo era o paraíso onde querias ficar até ao fim.

Respondeste tudo isto e no entanto, não escreveste uma única palavra.

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