segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Solidão


Muitas vezes passava horas a olhar a lua e cortava assim em pequenas fatias os meus momentos de solidão. Imaginava histórias que se passavam dentro dela, homens com sacos às costas a fugir do mundo, silvados cobertos de amoras silvestres, amantes rejeitados, gaivotas sem terra a fazerem teatros de sombras, palhaços despojados de luz, pombas adictas de paz.
As horas que passava assim... quando nos relógios apenas um segundo se tinha passado. Achava sempre que a lua me ia devolver um sorriso, me enviaria um naco de luar ou um acorde de fado, um som sombrio - que todos confundiriam com o uivar dos lobos solitários ali na serra.
Acreditava que a lua me roubaria a solidão, como rouba a luz ao sol e a esperança de chover - á chuva.

Passava horas assim, quando o ponteiro do relógio descaía apenas um segundo o seu percurso.

Depois houve um dia que descobri que a lua nunca me sorria, não me sorria, não me iria sorrir por uma razão simples: eu era invisível; ainda sou. Sou Invisível.  Serei sempre invisível na minha solidão. Também aos olhos da lua.

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