segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Metamorfose


Talvez quisesses saber onde estou agora. Estou no sítio onde estão todas as pessoas que já se sentiram amadas, a olhar um livro, a escrever um texto, a reter um cheiro, a escrever um nome no vidro embaciado da janela, a beijar os dedos já beijados por alguém, a morder a tristeza e a expulsar a ansiedade. A percorrer caminhos até ao cume dos meus seios, na esperança de ser abalroada pelas tuas mãos. Estou nesses sítios todos, em todos ao mesmo tempo, onde a vida não pára, onde se anda aos tropeções, porque o espaço é pequeno e as recordações são muitas . Talvez quisesses saber de mim muitas vezes em que não sabes - e olha, estou sempre lá nesses sítios; nos sítios em que folhas caem nos meus braços e me lembram outros toques, outras peles; nos sítios onde a água me gela os pés descalços e onde o fogo queima a estradas que a tua língua deixou em carne viva.
É aí que estou agora, no rescaldo do incêndio que ateaste e que demorarei milénios para combater. É exatamente aí que estou agora, no início da metamorfose: de mim - em água; de mim - em nada.

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