Esta noite dormi com a Lua. Entrou
pela janela do meu quarto, abraçou-me de luz e adormeceu-me a cantarolar.
A noite foi longa; noites de lua:
sonhei contigo - e ela viu. Depois, fiquei a manhã inteira a espreguiçar-me no
seu sono, e a contar-lhe as minhas histórias. Riu-se quando lhe disse que
gostava de ir contigo aos fados. Bocejou e respirámos empatia: lunáticas e
simples nos gostos – claras e brancas na luz. Solitárias e misteriosas,
habitantes sombrias no lado em que o sol se esconde. Personagens de histórias
fantásticas, com uma hipnótica tensão de enganar o tempo.
Ir aos fados contigo – que coisa
simples, disse-me ela. Encostar a cabeça no teu ombro e degustarmos verso a
verso, os poemas que se escapam das guitarras. Sorver a noite devagar e beber o
recorte de mistério nos teus olhos. Encostar-me no teu peito até que a
madrugada nos permitisse o último acorde. Deslizar-te no calor das mãos até que
tu e eu vestíssemos a mesma pele. Arrepiada.
Lua, agora vai, sei que te cega a
luz do outro astro que acordou. Reza por mim lá nas tuas galáxias de fantasia.
Pede ao teu Deus– é pouco Lua, mas louco. Gostava apenas de ir aos fados. Com
ele.
Vai Lua, não sei ao que vieste,
mas sei que entraste com a madrugada e o luar e que agora saio eu com a alma no
olhar. Tenho esperança que consigas o desejo – o meu.
Vai Lua, não contes a ninguém da
nossa noite, finge que fomos amantes clandestinas. Vai Lua, que eu vou também –
pôr os sonhos a dormir e pé ante pé acordar a utopia. E encetar o dia.
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