Fica comigo. Se não conseguires
ficar com o corpo, fica com a alma. Abraça-me e beija-me só com a alma e
esquece-te do corpo. Deixa-o ir onde tem que ir. Deixa-o ir lá para onde tem
que ir, deixa-o ir onde tem que ir.
Vamos mobilar a casa, arrumar as
compras, cozinhar a vida em lume brando. Comprar uma cama própria para almas. Vive
comigo com a alma, como se te dividissem em dois. Vamos habitar como dois
fantasmas, criaturas sem corpo, um mundo diferente, sem outros mundos lá
dentro. Faz com que nunca mais tenha que passar a ombreira da hora em que te
vais, em que te escondes nas curvas do pensamento e desapareces do alcance do
meu olhar. Sê tu a despedida – do teu corpo apenas.
Deixa passar quem passa, deixa
acontecer: mesmo o que não acontecerá nunca. Toca-me agora, outra vez. Toca-me
com a alma. Deixa o mundo girar, deixa o mundo parar, mas deixa-te ficar
comigo. Alma. Nem que seja só a alma. Prometo dar-lhe o meu corpo, darei á tua
alma este meu corpo, e de novo ficarás inteiro. Corpo e alma. Eu e tu, sem tempo
de despedidas.
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