Hoje respondi-te. Mas só
banalidades. O que te queria ter respondido era diferente. Algo assim:
Vem daí e traz as folhas,
marco-te um encontro ali em baixo junto ao rio. Chega. Senta-te na toalha de
linho que tirei da arca, a mesma que nunca serviu em toda a minha vida.
Queixas-te do cheiro a antigo da toalha e eu borrifo-te o ar com baunilha e
âmbar.
Vem daí e espalha essas folhas
pelo chão, faz desenhos, uma cruz, um quadrado, e os mais que te ocorrerem …
acaricia os ninhos que se escondem na folhagem e fustiga depois, com os mesmos
gestos: a minha timidez. Lê, lê agora aqui junto a mim tudo o que escrevi. Em
voz alta, diz-me o que não sei, diz-me por palavras tuas o que escrevi. Diz-me
que me lês, diz-me agora. Diz-me o que quero ouvir.
Depois deixa-me beijar-te as mãos
e depois a boca, deixa-me representar um a um os personagens em que me
transmuto, deixa-me que um deles seja eu. Eu própria. Deixa-me escrever-te um
beijo onde eu quiser.
Hoje escrevi-te, mas só
banalidades lexicais. Não te escrevi o que queria porque há nos meus dedos uma gaivota
com medo de cair, empoleirada num beiral de janela improvisado, à procura da
beira do seu mar.
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