Dizias-me hoje, assim meio em silêncio: Amanhã será tudo só
para ti.
E eu fiquei a sonhar como seria esse amanhã, em que tudo,
tudo, seria só para mim. Lembrei-me desde logo do sorriso e de como seria tê-lo
só para mim um dia inteiro, sem partilha, sem um relógio a bater partituras
de ir embora, sem a pressa que o apaga e momentaneamente lhe tira o brilho. O
sorriso, o teu sorriso brilho.
Fiquei a sonhar como seria este amor transmutado para a
realidade, subtraído do seu espaço sempre tão curto e tão etéreo. De como seria
sorrir-te enquanto dormes e entrar devagar nos teus sonhos, antes de ti. E poder
fazer isto hora após hora. Como seria não perder de vista a tua mão, na
escuridão das noites. Como seria pôr o teu lugar na mesa.
Dizias-me hoje, em silêncio: amanhã – tudo - só para ti, só para
ti. E eu fui logo mandar limpar o vestido novo, a toalha de linho que se
entedia na gaveta; e garantir que a campainha da porta não está avariada, com
aquele toque rouco que me faz sempre ignorá-la e confundi-la com sons que não conheço.
Amanhã, que bom, esta aliança que uso será nossa, e vai
parecer-me nova apesar de há muito ter perdido o brilho; amanhã dir-te-ei coisas
simples, como por exemplo: que nunca antes ouvi palavras como as tuas, dir-te-ei
isso num leve deambular de olhos, colocando a boca colada ao teu ouvido. Dir-te-ei, por exemplo, vários verbos, que te preciso, que te sonho, que te bebo, que te escrevo, que te amo.
Depois quando o dia acabar: o amanhã; quando o amanhã seguinte
for real, o outro amanhã em que não estarás aqui para seres apenas meu, vou
sentir-me só, com falta de uma asa, como se essa falta fosse um defeito de
nascença, que não se corrige com nada deste mundo.
Dizias-me hoje, assim meio em silêncio: amanhã tudo será só
para ti e em silêncio senti-me inteira, com duas asas para voar.
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