Chegaste a abraçaste-me com as
palavras. Nunca ninguém antes o tinha feito. Já me tinham abraçado. Já me
tinham dado palavras. Mas abraçar com palavras foste tu. E sentir-me abraçada
com palavras é único. Único. Tu.
Chegaste, e fizeste das palavras
uma dança do ventre – no meu ouvido. Levantaste o véu e letra a letra elevaste-me
ao patamar mais alto de um miradouro a que nunca tinha chegado E de lá avistei o
Tejo, e sobre ele peixes de prata saídos dos teus dedos; e desenhados em
palavras de mel: todos os poemas de Pessoa; as palavras enleavam-se nas nossas
bocas, respiravam espuma nas nossas salivas, misturavam-se como afluentes em
rios e num momento único, o Tejo deixava a lua adormecer no nosso corpo.
Misturar afluentes por palavras é único. Ver poemas de Pessoa no Tejo é único. Único
como tu.
Chegaste e escreveste-me no
corpo, depois na alma e numa noite de Verão, com salpicos de mar, rezaste-me –palavras-
na vida. Para sempre. Deitaste-me palavras em pó num copo de água fresca e eu
bebi. Serviste-me palavras à mesa, simples, em refeições simples, de simples
palavras, quebrei o prato dos medos e saciei-me de vida. De amor. Amor único.
Único como tu.
Chegaste com palavras no olhar e
acordaste todos os pássaros que se escondiam das chuvas, num Jardim de Inverno.
Único olhar. Se há palavras escondidas num olhar, esse olhar é Único. Desenhaste
no chão com letras de luz: um abrigo; e dia e noite, noite e dia, alheia aos
solstícios de Verão ou de Inverno, alheia aos ecos, alheia a tudo, dormi dentro
dele como se habitasse o anti Inferno (que nem Dante saberia apagar). Um abrigo
que tem paredes de palavras e o mar a deixar salpicos de espuma dentro dele é
único. Único como tu. Como tu nada. Se nada é como tu. É único.
Chegaste e percorri-te com palavras
o caminho sem regresso que vai das tuas mãos ao teu olhar. Devolveste-me a vida,
a sede e a esperança, eu peregrina, tu caminho de Santiago. Para um peregrino,
o caminho de Santiago é único. Como tu. Único como tu.
Chegaste como um mágico, e
tiraste palavras e palavras da algibeira, acabando com o frio neste hemisfério.
Erguemos bandeiras e fizemos nascer flores no meio de um império de betão.
Fazer nascer flores num império de betão é único. Únicos. Nós
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