Muitas vezes passava horas a
olhar a lua e cortava assim em pequenas fatias os meus momentos
de solidão. Imaginava histórias que se passavam dentro dela, homens com sacos
às costas a fugir do mundo, silvados cobertos de amoras silvestres, amantes
rejeitados, gaivotas sem terra a fazerem teatros de sombras, palhaços despojados
de luz, pombas adictas de paz.
As horas que passava assim... quando nos relógios
apenas um segundo se tinha passado. Achava sempre que a lua me ia devolver um
sorriso, me enviaria um naco de luar ou um acorde de fado, um som sombrio - que
todos confundiriam com o uivar dos lobos solitários ali na serra.
Acreditava que a lua me roubaria a solidão, como rouba a luz ao sol e a esperança de chover - á chuva.
Passava horas assim, quando o ponteiro do relógio
descaía apenas um segundo o seu percurso.
Depois houve um dia que descobri
que a lua nunca me sorria, não me sorria, não me iria sorrir por uma razão
simples: eu era invisível; ainda sou. Sou Invisível. Serei sempre invisível na minha solidão. Também aos olhos da lua.
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