Da tua alma vê-se a asa do meu
sonho.
Parece haver uma janela no centro
do meu peito por onde espreitas e me desvendas, por onde espreitas e traduzes o
momento meio tímido que antecede a vontade de beijar, por onde espreitas e
deslizas o pensamento até me decifrares, esteja eu onde estiver.
Estendes-me a passadeira vermelha
das palavras, e eu toda ouvidos, toda sentidos, avanço mais ou menos decidida a
discursar metáforas puras, de água fresca e cristalina, na nascente do teu
pensamento. Estendes uma passadeira vermelha de palavras, sobre a madrugada;
vou até ti e paramos à entrada da cidade desabitada e encantada de silêncios;
ali ficamos de mãos dadas no portão. Ficamos ali simplesmente, horas e horas
sem fim. Horas sem fim a ver crescer as heras que protegem as paredes e abrigam
o desabrochar tardio das margaridas. Ficamos ali, a ver, folha a folha o
desabrochar tardio das margaridas.
Da tua alma vê-se a asa do meu
sonho e a outra asa anda a voar à toa sobre o cume da saudade.
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