Procuro-te em todas coisas, em
todas as sombras em todas as esquinas; procuro-te em todos os vultos que me raptam a apatia e me devolvem o sorriso .
Procuro-te.
O teu cheiro é o aroma de todas as
Primaveras de Monet e de notas colhidas nas Índias mais longínquas do
meu corpo; por isso te procuro - no desenrolar das ondas nas praias dos meus
poros; por isso te procuro nas sombras chinesas
projetadas pelas minhas mãos abertas.
Por vezes levanta-se um bater de asas nos meus
olhos e voa-me uma pomba imaginária da janela do meu ventre: penso ter-te encontrado - mas é
apenas um anjo tresmalhado ao coração.
Nunca te disse que te procuro
em cada forma, em cada folha, em cada despertar, nunca te disse que és bater de
asas e pomba e flor, que és grito de ave ferida na madrugada fria, chuva no
porão; nunca te disse que és sabor de chocolate e menta no café das minhas
manhãs frias e seda pura a deslizar na curva mais escondida do meu corpo
ardente; que és seda. Pura. Seda pura a arder na fogueira dos sentidos. Nunca
te disse que és todas as coisas, todas as paisagens, todos os toques, todos os
sabores, todos os dias, todas as horas. Todos os meus dias, todas estas horas.
Porque tudo és tu. És tu .Tudo. Todas as coisas. Não há coisas, há apenas o tu
em todas as coisas.
Procuro-te sempre e para sempre nas bainhas da memória, nas
bermas lamacentas do passado, nas veredas floridas do presente. Procuro-te no
abrir de cada presente. No desenrolar de cada laço. Desembrulho-te, prenda.
Procuro-te
em todas as coisas.
É a ti que procuro nos espaços entre notas - das pautas
musicais das valsas das insónias; nos sustenidos e bemóis dos cantos das
cigarras, nos truques de magia decifrados e nas frestas de luz dos eclipses
lunares da minha rua.
É a ti que procuro. Na memória de
todas as coisas em que tocas.
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