Simplicidades
segunda-feira, 13 de julho de 2015
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Perdi-me
Perdi-me do cheiro da tua pele, porque lhe misturaste outro perfume. Repara: não há lírios com perfume de açucenas nem rosas com perfume de jasmim. Tudo é exclusivo e único no universo dos meus sonhos e por isso fiz da tua pele o lençol do meu corpo. Agora tenho frio e fome, tenho uma cegueira nos poros e uma ausência de existir. Perdi-me do cheiro da tua pele, porque lhe misturaste outro perfume.
quarta-feira, 26 de março de 2014
Olhar Apagado
Trazias o olhar apagado e a barba por fazer mas ainda assim rompeste
a minha noite e soltaste estrelas sobre os meus cabelos. E acredita, ninguém espalha
estrelas como tu sobre os meus cabelos. Tens esse dom de acender as noites, mesmo
quando o teu olhar está apagado.
quinta-feira, 20 de março de 2014
Onde vais?
Perguntaram-me: onde vais?
E não sei onde vou, só sei que tu me prendes.
Geraldo Bessa Victor (poeta angolano)
in As raízes do nosso amor
E não sei onde vou, só sei que tu me prendes.
Geraldo Bessa Victor (poeta angolano)
in As raízes do nosso amor
terça-feira, 18 de março de 2014
Aragem
Há uma janela aberta nesta casa, mas não a vejo. Queria fechá-la, para não entrar mais vento.
Queria fechá-la, a janela, mas não a vejo, e a aragem, fina e fria, entra-me pela vida devagar e deixa-me imóvel como estátua.
Queria fechar a janela, mas não a vejo.
Ainda ontem
Fecho os olhos e procuro-te nesse
mundo dos sentidos que fica sob as nossas pálpebras. Percorro esquinas e ruelas
por dentro de mim, sempre a passo lento e largo, palmilhando esta cidade
subterrânea, encantada de nós. Ainda ontem te conseguia encontrar por aqui,
numa dança de toques furtivos e tremores de pele; ainda ontem fazias nascer
flores nas bermas dos meus olhos, fazendo sorrir a própria Primavera. Fecho os
olhos e procuro-te no meu mundo, sabendo que só aqui te encontrarei, e no
entanto numa alquimia que só mágicos como nós percebem, sei afinal que é neste
mundo que jamais te encontrarei. És sazonal e livre como os malmequeres do
campo e deixas cair o brilho das manhãs quando te (a)colhem. Fecho-te no meu
mundo e procuro-te de olhos fechados, sabendo que mesmo assim, aqui, jamais te
encontrarei.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Castelos
Desde que te conheci que comecei
a construir um castelo.
Um castelo cheio de torres e
muralhas especiais, cheio de curvas e ameias, janelas e lendas de encantar.
Todos os sítios por onde passámos, onde nos tocámos, estão aqui no castelo que
construo; existem torres feitas de corpos pelo chão e ameias - janelas de
quartos em arranha-céus no centro de cidade, ao amanhecer; as ínvias muralhas
são espaços pequenos onde tu sentado me espreitas a vida e eu acredito renascer
com o elixir do amor com que me brindas. Torres, existem torres no castelo, que
trouxemos do castelo de verdade onde numa esquina meio escondida me abraçaste e
beijaste mal a tarde tinha começado e as azedas nas encostas pintavam de
amarelo o nosso olhar.
O castelo que construo tem
brilhos e purpurinas de palavras ditas, conversas a escorrer pelas paredes
húmidas e olhares de musgo pintados nos cantos a que ninguém pode chegar. Há um
recanto no castelo de onde se avista o mar, se ouve o frémito grito das gaivotas
em êxtase lunar e crescem heras na parede, orvalhadas pela espuma. Só tu e eu
somos caminhantes nos corredores desse castelo onde crepitam chamas antes do
incêndio consumado. Deitamos fogo à torre principal e depois a nós e ardemos
pelas horas, carne e pele adentro, sem que em nós existam cicatrizes.
Desde que te conheci que comecei
a construir um castelo, tão livre e nu, tão etéreo e único, que não tem uma
única parede e se avista de todos os sítios especiais em que estivemos e dos
outros, os que existem apenas na memória. Na memória das pedras.
Desde que te conheço que deixei
de ter coração de castelo abandonado.
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