quarta-feira, 21 de agosto de 2013

LUA


Esta noite dormi com a Lua. Entrou pela janela do meu quarto, abraçou-me de luz e adormeceu-me a cantarolar.

A noite foi longa; noites de lua: sonhei contigo - e ela viu. Depois, fiquei a manhã inteira a espreguiçar-me no seu sono, e a contar-lhe as minhas histórias. Riu-se quando lhe disse que gostava de ir contigo aos fados. Bocejou e respirámos empatia: lunáticas e simples nos gostos – claras e brancas na luz. Solitárias e misteriosas, habitantes sombrias no lado em que o sol se esconde. Personagens de histórias fantásticas, com uma hipnótica tensão de enganar o tempo.

Ir aos fados contigo – que coisa simples, disse-me ela. Encostar a cabeça no teu ombro e degustarmos verso a verso, os poemas que se escapam das guitarras. Sorver a noite devagar e beber o recorte de mistério nos teus olhos. Encostar-me no teu peito até que a madrugada nos permitisse o último acorde. Deslizar-te no calor das mãos até que tu e eu vestíssemos a mesma pele. Arrepiada.

Lua, agora vai, sei que te cega a luz do outro astro que acordou. Reza por mim lá nas tuas galáxias de fantasia. Pede ao teu Deus– é pouco Lua, mas louco. Gostava apenas de ir aos fados. Com ele.

Vai Lua, não sei ao que vieste, mas sei que entraste com a madrugada e o luar e que agora saio eu com a alma no olhar. Tenho esperança que consigas o desejo – o meu.

Vai Lua, não contes a ninguém da nossa noite, finge que fomos amantes clandestinas. Vai Lua, que eu vou também – pôr os sonhos a dormir e pé ante pé acordar a utopia. E encetar o dia.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.