domingo, 25 de agosto de 2013

Deixa-me só a alma

Fica comigo. Se não conseguires ficar com o corpo, fica com a alma. Abraça-me e beija-me só com a alma e esquece-te do corpo. Deixa-o ir onde tem que ir. Deixa-o ir lá para onde tem que ir, deixa-o ir onde tem que ir.
Vamos mobilar a casa, arrumar as compras, cozinhar a vida em lume brando. Comprar uma cama própria para almas. Vive comigo com a alma, como se te dividissem em dois. Vamos habitar como dois fantasmas, criaturas sem corpo, um mundo diferente, sem outros mundos lá dentro. Faz com que nunca mais tenha que passar a ombreira da hora em que te vais, em que te escondes nas curvas do pensamento e desapareces do alcance do meu olhar. Sê tu a despedida – do teu corpo apenas.

Deixa passar quem passa, deixa acontecer: mesmo o que não acontecerá nunca. Toca-me agora, outra vez. Toca-me com a alma. Deixa o mundo girar, deixa o mundo parar, mas deixa-te ficar comigo. Alma. Nem que seja só a alma. Prometo dar-lhe o meu corpo, darei á tua alma este meu corpo, e de novo ficarás inteiro. Corpo e alma. Eu e tu, sem tempo de despedidas.

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