quinta-feira, 4 de julho de 2013

Não


Houve um tempo em que tinha nas mãos uma vocação de jazigo. Houve outro tempo em que a vocação era de partituras, de palavras quentes e brancas, alinhadas - poeta meio vestido de metáforas e ainda assim nu, meio louco, meio alado: com o sonho de romper todas os dogmas, e com brandura esquartejar as filosofias que em desequilíbrio deixavam o mundo numa “ouquidão” insuportável. Todos os tempos foram volúveis nas ternuras, nos amores e nos afectos – tanto de grego como de troiano, tanto de porto como de cais. Tanto de pouco. Como de muito.

Houve um tempo de simplicidade. Era a vocação do (s) verso(s).. Era dos versos, sim era dos versos. Era a vocação da embriaguez de solidão. Era a dança nas arestas de chuva nos cabelos.

Houve um tempo que te fiz um verso único, derradeiro e dei-to a beber: como poção mágica. Para que nos unisse, e tecesse sobre nós sem desfiar – um manto de entendimento, para sempre.

Nesse tempo, não abriste os olhos, não ficaste extasiado com as palavras. Não com essas. Havia outras. Palavras.


Neste tempo é hoje- E hoje? Para que fazes tu agora esta ode das palavras? Dizes-me Deus, única, e falas de infinito. Ajoelhas-te e adoras as palavras – essas.

Que me dizes tu das chuvas? Repara: Não há nós. Só laços desatados.

Às vezes sim, sei que me escreves. Solenidade. Eloquência. Elevação de estilo.

Não. Há nós na ode das palavras.

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