sexta-feira, 16 de março de 2012

ESQUIZOFRENIAS 8

Há um traço tão leve entre o céu e o mar…
Entre o riso e o choro, entre a flor e a seiva.
Há um traço - sombra entre a margem e a proa do barco,
Entre o fogo-fátuo e o astro ardente.
Há um traço leve,
Entre a morte e a fuga furtiva,
Entre a tentação da palavra e a sedução do silêncio
Há um traço, mas leve, só um leve traço
Entre o espelho e o medo,
Entre olhares de vidro e degelos de sal,
Entre grades douradas e rouxinóis à solta
Há uma leve diferença, só um traço breve
Entre a névoa a pairar na ravina e a bruma atracada
Num olhar cansado
Entre o sol a pique e o calor dos beijos
Entre o desejo ao rubro e o avesso da pele
Há um traço breve,
Entre a in.coincidência do tempo e o rumor do medo
Entre a periferia das mãos e a ponta dos dedos
Entre o pressentir e o ser
Entre o sorriso da espera e o acenar no cais
Um traço de fumo, tão breve, tão branco
Entre a espera e a espada
Entre o tudo e o nada
Entre o ir e ficar
Entre a solidão e o estar só
Entre o grito perdido num deserto ao sul
E o rumor das magnólias em noite de Verão
É esse o traço, medroso, aparente,
que avança e recua em movimento lento
Que adoça a idade da alma e o sorriso triste
Esculpindo os sonhos com versos de luz
Na textura amarga dos dias incertos.

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