terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ESQUIZOFRENIAS 2

Por vezes apetece-me encerrar as palavras a pão e água, na solitária. Matreiras, traiçoeiras, duplo sentido sempre em riste, peças de jogos cinzentos e dúbios, às vezes sem nome, outras vezes chamadas metáforas, anáforas, perífrases e um sem número de perigosos sons, onomatopeias e neologismos ignorantemente atrevidos. As palavras, sempre as palavras. Talvez se as encerrasse mesmo a pão e água as tornasse débeis, frágeis, desprovidas de estética e de duplo sentido e assim os meus dias passassem a ser dias normais, povoados de restos de silêncios e detritos perigosos de lembranças mudas, sem o escape da alteridade da ficção. Se encerrasse as palavras na solitária, não mais teria que lhes testar o sabor, a textura, a estrutura ou a dor e poderia então desligar-me o incómodo léxico como se arrancam as pilhas das entranhas de um velho rádio . Se encerrasse as palavras a pão e água, não me poderias ler, só imaginar o que não escrevi....

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